Notícias



Rent-a-car: Preços do aluguer de carros caem até 30% por excesso de oferta
DINHEIRO VIVO


Alugar um carro este verão será mais barato. Numa altura em que a inflação e o aumento da procura turística pressionam os preços dos serviços ligados à esfera da atividade, o setor do rent-a-car entrou em contraciclo. No primeiro semestre do ano as tarifas caíram entre 10% a 30% devido ao aumento do número de veículos disponibilizados pelas empresas de aluguer de viaturas. Ou seja, apesar de a procura continuar pujante é, ainda assim, insuficiente para responder à atual oferta do mercado. Em junho, a frota de rent-a-car disponível foi de 105 mil automóveis, mais 8% quando comparado com o mesmo mês de 2023, e, em agosto, chegará às 120 mil viaturas (+6% face ao período homólogo).

“A operação de rent-a-car nos primeiros seis meses registou um resultado pouco positivo, apesar de impulsionada pela atividade turística e também pelo mercado nacional empresarial e de particulares. A operação está aquém do que era expectável, sobretudo devido ao crescimento significativo do número de viaturas disponíveis para aluguer, o que fez com que os preços praticados tenham ficado abaixo de 2023. A intensa concorrência no setor pressiona os preços e reduz as margens de lucro”, explica o secretário-geral da Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor (ARAC), Joaquim Robalo de Almeida.

A beliscar a tesouraria destas empresas está ainda o aumento dos custos operacionais que disparou 40% face a 2019, com as rubricas dos custos com frota, massa salarial, comunicações e instalações e marketing a assumir o maior peso nas contas.
Depois do melhor ano de sempre para o negócio, em 2022, marcado pela falta de carros para alugar devido à crise de escassez de chips semicondutores que afetou a indústria automóvel, e que levou os preços a disparar para valores recorde, 2023 começou a dar sinais de abrandamento.

No ano passado as receitas do setor caíram para os 938 milhões de euros que comparam com os 958 milhões de euros alcançados em 2022. Este ano, as perspetivas ditam uma nova quebra nas receitas. “Tendo em conta as reservas já existentes para o verão, podermos dizer que o número de alugueres poderá ser superior a 2023, mas com uma taxa de ocupação por viatura inferior ao ano passado. Considerando a maior oferta de veículos poderemos ter uma faturação menor ou igual a 2023, mas com maiores custos, o que certamente levará a uma quebra dos resultados das empresas”, antecipa Joaquim Robalo de Almeida.

Apesar do atual cenário marcado pela elevada concorrência, o número de carros vai continuar a crescer. Este ano o setor irá comprar 62 mil novas viaturas, mais oito mil do que as adquiridas no ano passado. Ainda assim, explica o porta-voz da ARAC, muitas destas aquisições destinam-se a substituir veículos com mais idade.

Olhando para o perfil do cliente, são os turistas os principais dinamizadores do negócio, representando 60% da operação das rent-a-car. “O turismo constitui um pilar fundamental para a atividade , impulsionando a procura e as receitas, especialmente durante a época alta”, indica o responsável. “Os turistas britânicos são tradicionalmente grandes utilizadores de serviços de rent-a-car, especialmente no Algarve, onde muitos têm residências de férias. Já os turistas alemães valorizam a liberdade de explorar destinos turísticos de forma independente, o que faz do rent-a-car uma opção muito procurada. Já o mercado norte-americano é o que tem registado maior crescimento”, aponta.

Carros elétricos são desafio

Além do tombo nas tarifas praticadas, há outros desafios na mira da operação das empresas de aluguer de carros, nomeadamente no capítulo da sustentabilidade. A ARAC explica que foi “significativamente” aumentada a frota de veículos elétricos e híbridos de forma a responder a uma procura por opções mais sustentáveis, o que também tem impactado os custos, uma vez que os seguros destas viaturas são mais elevados. Também os constrangimentos na rede de carregamentos é sentido como um obstáculo. “Apesar de algum crescimento da infraestrutura de carregamento, com mais estações de carregamento disponíveis, esta continua a ser claramente insuficiente. A insuficiência de postos de carregamento para veículos elétricos constitui um desafio significativo para a expansão e adoção destes modelos em Portugal, incluindo no setor de rent-a-car”, lamenta Joaquim Robalo de Almeida.

O representante da associação defende ser urgente proceder à aceleração de postos de carregamento nas estradas principais e apela ao “aumento dos incentivos financeiros concedidos pelo Governo para a instalação” destes postos. “A ARAC entende ser necessário um esforço coordenado entre o governo, empresas privadas e a sociedade. Deveremos ter em atenção a distribuição geográfica, pois a maioria dos postos de carregamento estão concentrados nas áreas urbanas, deixando as regiões rurais e menos povoadas na maioria dos casos desprovidas de qualquer posto de carregamento de utilização pública”, indica.

Ao novo Executivo de Luís Montenegro a ARAC pede ainda a revisão da legislação que regulamenta a atividade de rent-a-car, nomeadamente no que respeita à digitalização de reservas e celebração de contratos de aluguer, a articulação de plataformas digitais entre as empresas e as entidades reguladoras de trânsito, o apoio às empresas para instalação de sistemas que permitam a poupança de água na lavagem de viaturas e a revisão da tributação na aquisição de veículos.