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Andámos no carro do futuro na CREL e nada nos correu mal
Dinheiro Vivo


É um Volkswagen Golf azul escuro como todos os outros que aparece à nossa frente junto à praça da portagem do nó de Odivelas, na A9/CREL. Acompanhamos a estreia dos primeiros testes de sempre em Portugal de carros autónomos que nem mesmo a forte chuva de segunda-feira foi capaz de travar. O Dinheiro Vivo esteve na segunda-feira perto de Lisboa a acompanhar o primeiro dia destes ensaios, que envolveram três automóveis e em que nada correu mal.

“Estamos a aproximar-nos de um tempo em que haverá carros autónomos nas nossas vias a comunicar com todos os outros veículos”, destacou Jorge Jacob, o presidente da ANSR – Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, minutos antes de entramos pela primeira vez no carro do futuro em estrada aberta – o Dinheiro Vivo já tinha experimentado estes veículos em circuito fechado na Alemanha.

Os ensaios em Portugal resultam de uma parceria de entidades nacionais com organizações de Espanha. A Brisa, o Instituto Pedro Nunes e a ANSR são as entidades nacionais; a partir de Espanha colaboram o CTAG – Centro Tecnológico de Automação de Galiza, a universidade Politécnica de Madrid e a Indra. 

Estas provas são feitas no âmbito do projeto europeu AUTOC-ITS, que permite o desenvolvimento de soluções para os veículos autónomos poderem circular nas estradas europeias e o desenvolvimento de serviços colaborativos de transporte inteligente. 

Os testes decorrem num troço de sete quilómetros da CREL, entre Odivelas e Pontinha. O Volkswagen Golf é um dos dois carros autónomos que vimos assim que chegámos e tem vários equipamentos no interior que permitem participar neste testes: além dos radares, há vários sensores 3D e ainda um detetor de obstáculos a laser, o Lidar. Há também um Citroën C-Zero branco, totalmente elétrico, que também está a participar nos testes como veículo de condução autónoma. 

Os dois automóveis autónomos andam numa via própria da CREL entre as 10h e as 12h30 e ainda entre as 14h e as 16h. Mas mesmo que haja alguns problemas nada vai correr mal: em cada um destes veículos há um condutor que está pronto para controlar o carro se for necessário; há ainda um conjunto de três carros da GNR para isolar estes automóveis do restante tráfego. 

Carro com avisos 

O terceiro carro está descaracterizado e conta com tecnologia totalmente desenvolvida em Braga pela Bosch. Este é o carro conectado destes testes e que recebe a informação das seis caixas de informação instaladas pela A-to-Be, empresa de tecnologia de mobilidade da Brisa. 

Estas caixas são essenciais para que o carro conectado receba vários avisos ao longo do percurso de testes. Na nossa viagem, por exemplo, foi emitido um aviso de presença de gelo no asfalto, levando o condutor a reduzir a velocidade. Este aviso foi recebido pelo nosso carro de testes porque conta com tecnologia no interior do veículo que permite isso.

“Estamos a mostrar que é possível a nossa tecnologia com outras entidades”, destacam os responsáveis da Bosch. Isto evita que o carro de testes seja sujeito a um grande período de adaptação e permite ainda detetar outros automóveis conectados e comunicar com eles. 

Autónomos em segurança 

Ao longo dos ensaios, que vão decorrer até quinta-feira, os carros autónomos vão ter de superar vários desafios criados artificialmente, como piso escorregadio, veículos imobilizados ou em marcha lenta. Os automóveis testados serão informados, através de uma notificação no sistema, da existência destes obstáculos e terão de adotar um comportamento ajustado – ao reduzir a velocidade, por exemplo – e superar cada um destes obstáculos em segurança, própria e dos terceiros que circulam na via. 

Para uma concessionária como a Brisa, os carros autónomos “vão mudar a forma como encaramos o veículo na infraestrutura. Estes automóveis vão permitir muito mais eficiência na gestão da via, sobretudo nos congestionamentos”, destaca Franco Caruso, responsável pela comunicação da Brisa. 

Estes testes também são muito importantes porque “no mercado vão existir vários sistemas de condução autónoma, que terão de funcionar em segurança” e conviver com os equipamentos instalados pelas empresas concessionárias, acrescenta o mesmo responsável. 

As conclusões destes ensaios só serão conhecidas daqui a alguns meses. Se forem positivas, poderão acelerar as alterações legislativas necessárias para que os carros autónomos possam circular nas estradas europeias. 

As convenções nas quais se baseiam praticamente todas as legislações rodoviárias são de 1949 e 1968 e, desde logo, estabelecem que só podem circular veículos com condutor. Numa escala de 0 a 5, a automatização total ainda não existe, mas na estrada já é habitual encontrarem-se veículos com funções automáticas, como a direção ou travagem assistida ou os assistentes de estacionamento.