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Procuram-se trabalhadores para "boom" de turismo em Portugal
Jornal de Negocios


Quando Chitra Stern e o marido abriram o seu primeiro hotel numa pequena vila de pescadores no extremo sudoeste de Portugal em 2010, não tiveram dificuldades para encontrar trabalhadores para ajudar a geri-lo, apesar da localização remota. Visitaram algumas escolas de hotelaria, publicaram anúncios e em pouco tempo entrevistaram candidatos para o Martinhal Sagres Beach Family Resort Hotel.

Portugal encontrava-se, então, numa situação complicada e dezenas de hotéis estavam à beira da falência porque o país estava numa recessão, encontrar trabalhadores altamente qualificados e acessíveis era muito fácil.

Agora, Stern, de 47 anos, que tem quatro hotéis no país com o marido, Roman, diz que simplesmente não consegue encontrar trabalhadores portugueses qualificados.

"Com o boom do turismo, agora enfrentamos uma escassez de trabalhadores, não de empregos", disse Stern.

Portugal está a começar a preparar-se para o que poderá ser uma enorme temporada turística neste Verão boreal, e o sector começa a preocupar-se com a capacidade de lidar com o fluxo de visitantes. Já no ano passado, os hotéis de Portugal receberam um recorde de 20,6 milhões de hóspedes, cerca do dobro da população do país. Com a ajuda do boom do turismo, a economia cresceu 2,7%, o ritmo mais rápido desde 2000. O desemprego caiu para 8,1% no quarto trimestre do ano passado, o que contrasta com o recorde de 17,5% atingido em 2013.

Empregos básicos

A recuperação do mercado de trabalho foi uma boa notícia para os trabalhadores portugueses, mas alguns proprietários de hotéis depararam-se com alguma frustração quando quiseram contratar pessoal. A escassez corre o risco de abalar um sector que representa quase 17% do produto interno bruto do país e um em cada cinco empregos, de acordo com dados compilados pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo.

"Nós podemos conseguir administradores, mas temos dificuldade de encontrar gente para preencher os empregos mais básicos", afirmou Raul Martins, líder da Associação da Hotelaria de Portugal, que representa cerca de 600 empresas hoteleiras.

Martins, que também é o presidente da cadeia de hotéis Altis, estima que há um défice de cerca de 40.000 trabalhadores para hotéis. Os baixos salários podem fazer parte do problema - Portugal é o país mais barato da Europa Ocidental, depois de Malta, em termos de custos laborais por hora, de acordo com dados compilados pelo Eurostat.

Embora a receita hoteleira e o número de visitantes tenham atingido picos recorde, o salário líquido médio para trabalhadores de hotéis, restaurantes e profissões similares aumentou apenas 7,7% no período de 2011 a 2017, para 632 euros por mês, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística de Portugal. O salário mínimo é de 580 euros por mês. Os empregados de hotéis ganham em média 1.035 euros por mês, revelou Martins, citando um estudo da Associação da Hotelaria de Portugal.