Notícias



Sem novo “software” de tráfego, Montijo é inútil
Jornal de Negócios


O novo sistema de gestão do tráfego aéreo para Portugal continental e Madeira é considerado essencial para que os movimentos por hora possam aumentar com a entrada em funcionamento do aeroporto do Montijo. Actualmente, o aeroporto de Lisboa, com apenas uma pista activa, está limitado a 40 movimentos – aterragens ou descolagens – por hora. Com a entrada em funcionamento do Montijo, em 2022, prevê-se que ela cresça para 72 movimentos por hora.

O alerta foi dado pelo Sindicato dos Controladores de Tráfego Aéreo (Sincta), numa sessão de esclarecimento esta terça-feira, em Lisboa. Carlos Valdrez, presidente do Sincta, diz que "sem um novo sistema, falamos de [um máximo de] 40 movimentos [por hora], havendo os aeroportos que houver", porque o actual sistema de controlo de tráfego, em uso desde 2001, está "no limite" e já falhou quatro vezes este ano, embora "a segurança não tenha ficado em causa".

O crescimento de tráfego de 39% desde 2012 tem aumentado a pressão sobre um sistema "no limite" e que lida com um tráfego que só se previa para... 2025.

O processo de aquisição do novo sistema de gestão de tráfego tem-se arrastado ao longo deste ano. Apesar de ter sido eleito como a principal prioridade da NAV para 2017, os prazos foram sendo sucessivamente adiados. Neste momento já se sabe que o "software" em causa será o TopSky, comercializado pelo gigante francês Thales, que tem um custo de "30 a 40 milhões de euros", e o Governo tem também uma parecer da PGR que dispensa a necessidade de se avançar para um concurso público.

Carlos Valdrez garante também que foi já dado um parecer positivo à aquisição deste sistema por parte das secretarias de Estado das Infra-estruturas e do Tesouro e que o Governo se comprometeu a avançar para a compra deste sistema até final deste mês. Falhar a compra no corrente mês deverá atrasar o processo "em oito meses", calculou Rui Marçal, também da direcção do Sincta.

O Negócios questionou, sem obter respostas, o Ministério do Planeamento e Infra-estruturas sobre este compromisso. Porém, à Lusa, o gabinete de Pedro Marques esclareceu que apesar de o processo estar numa fase "muito avançada", ainda falta a "clarificação de alguns aspectos administrativos para que seja possível avançar para uma nova fase do projecto", e para que a decisão tenha a "máxima segurança técnica e jurídica".

Novos funcionários e mais "espaço" no ar
Porém, não é só o novo sistema de controlo de tráfego aéreo que faz falta para que seja possível atingir os níveis operacionais que se prevêem com a entrada em funcionamento do aeroporto do Montijo – 46 movimentos por hora em Lisboa, 24 no Montijo e dois em Tires (Cascais). De acordo com Rui Marçal, é necessário que no próximo ano a Força Aérea faça cedências nos amplos corredores aéreos que gere nas redondezas dos dois aeroportos; além disso, será necessário contratar, "nos próximos quatro a cinco anos, 50 a 60 novos controladores de tráfego aéreo".

Tome nota

Vem aí uma nova torre de controlo em Lisboa

Novo "software" será da thales
O novo sistema de gestão de tráfego aéreo já está escolhido: é o TopSky da gigante francesa Thales. O Governo já se terá comprometido a avançar para a aquisição deste sistema por um montante "entre 30 e 40 milhões de euros", que será "totalmente recuperado pelas taxas de rota" cobradas pela NAV a cada avião que cruza o espaço aéreo português (fixada em 32,4 euros, com uma hora de voo em espaço aéreo nacional a custar 280 euros). Um parecer da PGR dispensa o Governo de abrir concurso público, porque a aquisição deste "software" é uma das condições para a NAV aderir à Coopans Alliance, uma parceria entre os gestores de tráfego aéreo de vários países europeus. "Significa entrar no ‘clube dos crescidos’", ilustrou Carlos Valdrez. O actual sistema de controlo de tráfego, LISATAM, está em uso desde 2001 e este ano já registou quatro falhas técnicas.

Força aérea tem de libertar corredores
Para aumentar a capacidade operacional em Lisboa não basta abrir o aeroporto do Montijo; é preciso que em 2018 a Força Aérea faça cedências nos corredores aéreos militares que controla nas proximidades da capital – Sintra, Monte Real, Alverca, Alcochete e Montijo. "Lisboa tem áreas militares do lado direito e esquerdo", do ponto de vista dos aviões que aterram na Portela, explicou Rui Marçal, da direcção do Sincta. Se essas áreas militares estiverem activas, "as aeronaves civis não podem circular lá dentro". E isso limitará as manobras de aproximação aos aeroportos.

Épreciso contratar 50 a 60 pessoas
Adicionalmente, Rui Marçal diz que "nos próximos cinco a seis anos há a necessidade de [contratar] 50 a 60 novos controladores" de tráfego aéreo, precisamente para lidar com o aumento de procura e capacidade aeroportuária em Lisboa.

Lisboa deve ter nova torre de controlo
Será também necessário proceder à renovação das instalações onde os controladores de tráfego aéreo trabalham em Lisboa. Está prevista uma renovação do Centro de Controlo da capital, mas a torre de controlo do aeroporto da Portela não deverá ter condições para se adaptar a esta nova era. Particularmente porque tem estações de trabalho limitadas – apenas quatro, que dificultam o trabalho durante o processo de transição entre o sistema antigo e o novo. "Há dois ou três locais em cima da mesa para construir a nova torre", revelou Ana Santiago, da direcção do Sincta. "Provavelmente" também será necessário construir uma nova torre de controlo no Montijo, antevê Rui Marçal.