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Início do desconfinamento ainda não chegou à economia
Jornal de Negócios


A primeira fase do desconfinamento ainda não tirou a economia portuguesa do vermelho. O PIB continuou prejudicado pelas medidas implementadas para conter os contágios de covid-19, embora o impacto negativo não tenha sido tão duro como o do confinamento de 2020.

Os efeitos da primeira fase do desconfinamento ainda não tiveram um impacto positivo na economia. Apesar de as crianças mais pequenas terem voltado às escolas, da reabertura dos cabeleireiros e de as vendas ao postigo terem regressado, o ritmo da atividade económica ainda não deu sinais de recuperação. Esta é a leitura que resulta do indicador da OCDE para Portugal, corrigido para eliminar os problemas de comparabilidade.

Desde a pandemia de covid-19, a OCDE lançou um indicador novo para tentar medir o PIB quase em tempo real. O nível da atividade económica é estimado a partir de um modelo criado com base nas pesquisas no Google, que se revelou robusto e bastante próximo da atividade económica apurada, mais tarde, pelos organismos de estatística oficiais.

Porém, com a entrada nos meses de março e abril, este indicador ficou com problemas de comparabilidade. Como no final de março e durante o mês de abril de 2020 Portugal – à semelhança de muitas outras economias – estava em pleno confinamento, comparar os níveis de atividade atuais com este período não dá uma leitura fiel do que está a acontecer.

Por isso, a OCDE corrigiu este efeito assumindo um modelo a que chama “contrafactual”. Com base nas projeções que tinha em dezembro de 2019, estima que atividade deveriam ter as economias, não fosse a pandemia. Os resultados são preocupantes.

“A recente subida no indicador (em termos homólogos) [verificada para Portugal] é devida a efeitos de base”, confirma ao Negócios Nicolas Woloszko, economista responsável pelo desenvolvimento destas estatísticas. “O indicador (contrafactual) feito para ultrapassar este problema mostra que não há sinais de recuperação (ainda).”

Segundo a OCDE, o ritmo da atividade económica em Portugal, na quinzena da primeira fase de desconfinamento manteve-se em torno de 12% abaixo do que teria sido a atividade normal. A instituição também experimentou a comparação com o ritmo de atividade de 2019. Nesse cálculo, a ausência de uma recuperação repete-se, mas a dimensão das quedas é menor (em torno de 8%). Porém, Nicolas Woloszko recomenda que estes dados não sejam ainda utilizados por estarem numa fase experimental.

Dados do Bancode Portugal corroboram

A leitura que se retira dos dados da OCDE vai ao encontro do que sugere também a informação do Banco de Portugal. A instituição portuguesa desenvolveu igualmente um indicador diário da atividade económica – para o qual recomenda uma leitura em médias móveis semanais – que sofre dos mesmos problemas de comparação desde meados de março.

Este indicador tem por base outras fontes de informação: utiliza o tráfego de veículos comerciais pesados nas autoestradas, o consumo de eletricidade e gás natural, a carga e correio desembarcados nos aeroportos nacionais e compras efetuadas com cartões em Portugal. Mas também se mostra bastante robusto na comparação com a variação do PIB que é mais tarde apurada pelo Instituto Nacional de Estatística.

Para mitigar os mesmos problemas de comparabilidade, o Banco de Portugal optou por apresentar comparações homólogas, mas bienais (acumula as taxas de variação dos dois anos anteriores, ou seja, de 2020 e de 2019). O resultado mostra que a melhoria que tinha sido identificada na primeira semana da primeira fase de desconfinamento desapareceu. Na semana terminada a 4 de março, a economia estava a cair cerca de 3%.

Será preciso esperar para avaliar o impulso económico da segunda fase (e seguintes) de desconfinamento. Por enquanto, verifica-se apenas que o segundo confinamento estrito teve um prejuízo menor para o PIB do que o primeiro.