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CONSELHEIRO AMBITUR: “É PRECISO RECONHECER A ESPECIFICIDADE DO TURISMO E TER UM PROGRAMA DESTINADO EXCLUSIVAMENTE AO SETOR”
Ambitur


Perceber o que os empresários do setor do turismo pensam e têm a dizer sobre as estratégias que Portugal, e a União Europeia, estão e devem adotar rumo à retoma, é o objetivo da Ambitur ao ouvir os Conselheiros Ambitur.Bernardo Trindade, administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo, deixa-nos a sua visão.

Tem Portugal, e a União Europeia, atualmente uma estratégia institucional para uma eventual retoma da atividade turística ou este é o momento de a definir? Quais deveriam ser os pilares da mesma?
Tem de ter. O turismo é suficientemente importante na criação de valor e na criação de emprego no conjunto da União Europeia para justificar um olhar muito sério sobre esta temática. Aliás os países onde o turismo representa uma maior percentagem no PIB tiveram um comportamento mais negativo em 2020.

Foi por isso com expectativa que, no decurso da presidência portuguesa, assistimos à reunião dos ministros de turismo da zona euro para tratar do dossier turismo.

Nesse sentido, é urgente dentro do tema da mobilidade na EU, a criação do passaporte digital. Há um consenso geral na adoção desta medida, e isso é muito bom. Claro que, para Portugal, e para regiões como o Algarve e a Madeira, este passaporte digital sanitário deve ser alargado ao Reino Unido dada a importância deste mercado para estas regiões.

Em segundo lugar, assegurar a harmonização na EU nas questões de soberania como a abertura de fronteiras. Assegurar ainda regras idênticas de funcionamento em portos e aeroportos. Tal como na distribuição das vacinas e na aprovação da bazuca europeia, o projeto europeu deve prosseguir organizado dando cumprimento a este enorme conceito de solidariedade entre todos.

Como deve Portugal posicionar-se no curto prazo, antevendo uma retoma da atividade turística? Há, por outro lado, uma necessidade de um trabalho conjunto entre o tecido empresarial?
Dada a importância que o turismo teve no crescimento da economia nos últimos anos, é expectável que continue a ter um papel muito ativo no processo de recuperação que todos ansiamos. Nesse sentido, é preciso reconhecer a especificidade do turismo e ter um programa destinado exclusivamente ao setor. O ano de 2020 foi muito difícil. Pese embora toda a ajuda pública em torno da manutenção do emprego com o lay-off simplificado, milhares de empresas fecharam. É fundamental que as que sobreviveram em 2021 não morram. Nesse sentido tem de ser reconhecido o apoio específico ao setor. Vou dar um exemplo: para a linha de crédito às exportações concorreram todos os setores. Os bancos escolheram os melhores riscos em função da garantia de Estado não ser a 100%, por outro lado a prova da vocação exportadora foi mais burocrática no setor do turismo. Resultado: as linhas esgotaram rapidamente, e mais rapidamente esgotaram no setor do turismo.

Neste sentido, o trabalho conjunto do tecido empresarial é essencial. Em torno das associações do setor. Dando expressão, dando escala, a cada uma das reivindicações do setor. O setor tem de dar continuidade ao bom trabalho feito nos últimos anos em torno da sua afirmação enquanto atividade estruturante do nosso desenvolvimento coletivo.

Quais os entraves que considera ser necessário mitigar para que não haja barreiras a esta retoma da atividade turística no país?
Tal como referi há pouco, a uniformização de procedimentos em torno da reabertura de fronteiras, do funcionamento das infraestruturas; o apoio aos balanços das companhias aéreas, o reconhecimento da especificidade turismo, podem constituir-se entraves à recuperação caso não sejam corretamente tratados. Temos – todo o setor do turismo – de ser muito assertivos na forma como atuamos em cada um dos nossos metros quadrados…o sucesso das nossas reivindicações vai passar muito por isso. Por sermos assertivos. Pelo mérito que obtivermos, pela bondade de argumentos que recolhermos. Trabalho difícil sem dúvida mas estimulante.

Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania e ex-presidente da AHP), Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo), José Lopes (diretor da easyJet em Portugal), Eduardo Jesus (secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira), Francisco Pita (CCO ANA Aeroportos), José Luís Arnaut (presidente-adjunto da Associação Turismo de Lisboa), Cristina Siza Vieira (presidente executiva da AHP), Mafalda Bravo (Country Manager Portugal Ávoris) e Maria João Rocha de Matos (diretora geral FIL e CCL).