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UE corre risco de sair do Grande Confinamento para entrar na Grande Divergência
Jornal de Negócios



A União Europeia corre o risco de deixar que o Grande Confinamento vivido em 2020 se transforme na Grande Divergência em 2021. Ou seja, depois da experiência das medidas de confinamento estrito forçadas pela pandemia de covid-19, os países correm o risco de entrar num processo prolongado de divergência económica que será visível tanto entre países, como dentro de cada Estado, sob a forma do aumento das desigualdades. O aviso é de Kristalina Georgieva, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, e foi deixado esta segunda-feira.

A "maior preocupação" de Georgieva é que "o Grande Confinamento de 2020 se transforme numa Grande Divergência em 2022", assumiu a líder num discurso no âmbito da Semana do Parlamento Europeu, este ano organizada em formato virtual por causa da covid-19.

Depois de os países terem amparado o embate económico provocado pela pandemia, preparam-se para entrar num processo de recuperação mas este está carregado de riscos. O maior é o da divergência e das desigualdades crescentes. Georgieva lembrou desde logo que os países não foram afetados todos de igual forma pela pandemia: os mais dependentes do turismo sofreram mais, tendo registado recessões maiores do que a média. A líder do FMI deu o exemplo de Espanha, Grécia e Itália. Não falou de Portugal, mas a economia portuguesa também encaixa na descrição, já que contraiu 7,6% no ano passado, acima da média de 6,4% da UE.

Do mesmo modo, Georgieva notou que os países da Europa Central e de leste deverão sentir um impacto até 2022 três vezes superior ao vivido pelas economias mais avançadas da UE.

Para responder a esta divergência, a presidente do FMI deixou três linhas de ação que considera fundamentais: primeiro, "aumentar a produção e a distribuição de vacinas é crítico", frisou. É que enquanto a pandemia não estiver ultrapassada à escala global, "arriscamos novas mutações que ameaçam o progresso" mesmo nos pontos do globo onde os contágios estejam mais controlados, explicou. E para que a produção aumente, é preciso "cooperação", defendeu.

Segundo, é preciso continuar a apoiar as empresas e as famílias "enquanto a pandemia não estiver vencida". "A retirada gradual [dos apoios] deve seguir-se, mas não anteceder" a saída da crise sanitária. "Um aperto prematuro da política enquanto as economias mais afetadas ainda estiverem muito frágeis pode exacerbar as divergências entre países", avisou.

Em contrapartida, no entretanto, os países devem aproveitar para melhorar os seus regimes de insolvências. Kristalina lembrou que os apoios de 2020 adiaram insolvências que agora se poderão materializar.

Por fim, e este é o ponto "mais importante no longo prazo", sublinhou a responsável pelo Fundo, é preciso promover mudanças estruturais para a digitalização e a economia verde. Os cálculos do FMI indicam que um investimento coordenado em infraestruturas verdes pode fazer subir o PIB mundial em 0,7% ao ano.

Neste ponto, o Próxima Geração UE pode ser mais do que um programa para promover a transformação económica: "pode ser um antecedente de novas ferramentas orçamentais partilhadas para complementarem a política monetária do BCE", argumentou. "A UE pode dar novos passos em direção da união bancária e de mercados de capitais para promover o crescimento e a integração", pressionou ainda a líder do FMI.