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BCP defende prorrogação das moratórias para empresas de turismo
Jornal de Negócios


O presidente do BCP rejeita a ideia de que as moratórias do crédito constituam um "risco" para o setor financeiro e argumenta que "o verdadeiro risco" será retirar os apoios às empresas antes de estas terem condições para retomar a atividade. Por isso, defende que as moratórias poderão mesmo ser prolongadas, nomeadamente para as empresas do setor do turismo, um dos mais afetados pela pandemia.

"Exigir o pagamento de créditos num período em que as empresas não têm receitas em resultado de uma falha de mercado é algo que não faz qualquer sentido", começou por afirmar, sobre este tema, Miguel Maya, durante o webinar "O Estado do Turismo", que está a decorrer esta terça-feira, 9 de fevereiro.
E continuou: "Há uma corrente, um ruído de fundo que sobe de tom, sobre os riscos das moratórias e das suas consequências para o setor financeiro. Esse ruído vai-se impregnando e contaminando a qualidade da reflexão. Transforma-se num risco real, pois alimenta o preconceito relativamente às moratórias, com as consequências que daí decorrem. O verdadeiro risco seria retirar os apoios ao setor, entre os quais as moratórias, antes de estar superada a falha de mercado, ou seja, antes de os clientes poderem gerar receitas", frisou.
Assim, assegura, "o BCP continuará a ser um defensor da prorrogação das moratórias para o setor do turismo enquanto a situação da pandemia não estiver controlada, não só para as empresas, como, também, para os trabalhadores do setor". O presidente do BCP acredita que "há que tratar de forma diferente o que não é igual" e "garantir que, resolvida a crise sanitária, a retoma se faça a passo acelerado".

Miguel Maya defende ainda que os apoios do Estado sejam "criteriosos", mas "tão generosos quanto possível", o que vai implicar que haja escolhas quanto à repartição destes apoios. "O setor do turismo tem de poder contar com linhas Covid, apoios ao emprego, linhas de suporte à inovação produtiva e à qualificação da oferta e mecanismos de transformação de apoios públicos em capital", apontou.

Quanto à capacidade da banca para apoiar o setor, Miguel Maya lembra que os depósitos das famílias aumentaram "de forma significativa" no ano passado, mas esse crescimento "não se traduziu no aumento de rendibilidade da banca, antes pelo contrário, dado o contexto de taxas de juro negativas". Assim, "a par de uma abundante liquidez, os bancos têm todos os incentivos para conceder crédito à economia", garantiu, ressalvando que é "necessário preservar o rigor na aferição do risco, para que não se cometam erros do passado e se evite que os bancos passem a ser um problema"
O presidente do BCP reconhece que Portugal está "mal em termos económicos", mas salienta que "o pior já terá passado". Aliás, num cenário pessimista, em que o crescimento do PIB seja de 0% em cada um dos trimestre de 2021, "chegaríamos ao final do ano com um crescimento de 2,7% face a 2020", ilustrou.

Mas, para que o crescimento seja superior, tem de ser dada prioridade ao turismo. "É determinante assumirmos, sem reservas, uma discriminação positiva do setor do turismo, pois tal beneficiará todos os portugueses", concluiu.