Notícias



Confederação de Turismo alerta: "empresas de maior dimensão já estão em fase de especial fragilidade"
DINHEIRO VIVO


Quase 13 milhões de hóspedes estrangeiros, o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, a rebentar pelas costuras e o setor do turismo a apelar para que a transformação da base aérea do Montijo em aeroporto complementar entrasse em velocidade cruzeiro para que o boom do turismo não perdesse gás. Este é o retrato dos primeiros nove meses do ano passado. Uns meses depois, a imagem é radicalmente diferente: 3,4 milhões hóspedes não residentes, um aeroporto de Lisboa com quase 7,8 milhões de passageiros movimentados até setembro, longe dos mais de 23 milhões registados no mesmo período do ano passado.

Os reflexos nas empresas do setor são claros, com prejuízos elevados, o que levou o governo a lançar várias medidas de apoio que, segundo Francisco Calheiros, tardam em produzir efeitos. A travagem a fundo não deixa nenhuma empresa indiferente, nem as grandes, com maior número de infraestruturas e funcionários, escapam.

"A situação atual das empresas é desastrosa. O turismo está ligado ao ventilador, sem perspetivas animadoras a curto e médio prazo. Evidentemente, que as empresas estão a tentar cumprir com as suas obrigações, mas com enormes dificuldades", diz ao Dinheiro Vivo o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP).

Os próximos tempos continuam a ser de incerteza e vários organismos internacionais antecipam que 2021 seja um ano em que a atividade turística possa dar alguns passos na direção da retoma, mas no setor só deverá chegar em 2022. Sendo que, no caso da aviação civil, e à escala global, as estimativas internacionais apontam para os anos de 2023 ou 2024 como a altura em que se atinjam os níveis de 2019.

Toda esta envolvente determina que muitos hotéis, unidades de alojamento local, empresas de animação turística e cultural, restaurantes estejam de portas fechadas e sem data para abrir. Em Portugal, o tecido empresarial do turismo é composto sobretudo por microempresas e pequenas e médias empresas (PME). Francisco Calheiros não esconde que "o peso das microempresas no turismo é superior a 90% o que adensa ainda mais um conjunto de problemas que resultaram desta crise pandémica".

Reconhece que na primeira fase em que foram revelados apoios para o setor, que coincidiu com o início da pandemia, "alguns deles foram dirigidos às micro e PME´s do turismo, mas podemos agora afirmar que não foram suficientes para atenuar os prejuízos e as dificuldades sentidas na altura". Entre as medidas estava o regime de lay-off simplificado que terminou no verão, tendo sido substituído pelo apoio à retoma progressiva.

O líder da Confederação do Turismo explica que "à data de hoje, para além das medidas enunciadas nas várias reuniões de Conselho de Ministros e às quais a comunicação social deu especial ênfase, a realidade é que nada de concreto chegou ainda ao nosso tecido empresarial". E vai mais longe: "ressalto de igual forma, e sublinhando este aspeto, que as nossas empresas de maior dimensão estão também agora a entrar numa fase de especial fragilidade o que, do ponto de vista estrutural, é uma péssima notícia e que a todos deve preocupar pelas repercussões sociais que daí podem resultar".

A CTP não tem ainda números sobre a execução dos apoios, mas "podemos referir de uma forma clara e objetiva que é muito urgente que estas novas medidas de capitalização, financiamento e a fundo perdido sejam rapidamente legisladas e colocadas em prática".

Recentemente, o governo anunciou o programa apoiar.pt, que tem uma dotação de 750 milhões de euros a fundo perdido e que é dirigido para as micro e pequenas empresas que operem nos setores mais afetados pela pandemia. Entre os critérios para aceder a este apoio está a quebra de faturação acima de 25% nos primeiros nove meses deste ano comparando com o mesmo período de 2019, capitais próprios positivos no final do ano passado e ter a situação financeira regularizada junto da Autoridade Tributária e Segurança Social.