Notícias



António Costa sobre Estado de Emergência: “No limite, dura até ao fim da pandemia”
EXPRESSO


Em entrevista à Antena 1, António Costa diz que, “no limite”, o Estado de Emergência pode durar até final da pandemia e reforça a confiança política em Marta Temido: "Nenhum ministro da saúde foi confrontado com uma situação tão grave como a atual”. Sobre Bloco de Esquerda, garante, "não há portas fechadas"

O Estado de Emergência não aplica imediatamente essas medidas, cria a possibilidade de as podermos aplicar", diz António Costa anunciando que o Governo irá, nas próximas horas, falar com os autarcas dos 121 concelhos em situação mais complexa para, no Concelho de Ministros deste sábado, decidir as medidas a aplicar em cada região.

No dia em que a quarta declaração de Estado de Emergência será votada - com aprovação garantida por PS, PSD, CDS e PAN - e antes de uma declaração, por volta das 20h, de Marcelo Rebelo de Sousa ao país, António Costa deu uma entrevista à Antena 1. Mesmo reconhecendo que houve um atraso na preparação da resposta à segunda vaga, o primeiro-ministro diz-se de confiança "reforçada" em Marta Temido assim como na qualidade do Orçamento do Estado para fazer frente à crise consequente da covid-19, mas sem afastar a possibilidade de um retificativo. Posição menos clara, só quando a entrevista chegou às eleições presidenciais do próximo ano. "A grande prioridade do PS deve ser a governação", disse, antes de confirmar que não falou com Ana Gomes depois do seu anúncio de candidatura presidencial.

Com o Natal a chegar, o primeiro-ministro diz ser impossível prever que limitações estarão em vigor, mas diz-se convicto que os portugueses já estão mentalizados para que as celebrações terão de ser diferentes. "A minha família não é muito numerosa e já nos organizámos de forma diferente".

"Estamos todos muito desconfortáveis. Alguém está confortável de máscara? Temos de evitar um confinamento total, mas o que temos tentado é modelar a resposta à evolução da pandemia", diz o primeiro-ministro, evitando prever a duração do Estado de Emergência. "Segurança jurídica", diz, é a principal vantagem de um Estado de Emergência que, garante, "não obriga à aplicação de todas as medidas". "No limite, dura até ao fim da pandemia, mas isso não quer dizer que as medidas estejam sempre aplicadas", diz.

"PRESSÃO SOBRE SNS É ENORME"

"O sector privado nunca ficou impedido de trabalhar, mas mais que o cancelamento de serviços, houve medo generalizado das pessoas em se aproximar dos hospitais", lembrou António Costa, defendendo que agora é tempo de recuperar. "Não há receio em fazer qualquer contratualização. Há vários acordos que têm sido feitos e nunca houve aqui uma questão de dinheiro", defendeu, antes de lembrar que um valor perto do total da "famosa bazuca europeia de 13 mil milhões de euros" será aplicada no sector da saúde.

Sobre as críticas de Marta Temido, ministra da Saúde, aos privados, Costa defendeu que a responsável da tutela "conhece melhor o sector", mas lembrou que são "as pessoas que não querem ir aos privados tratar covid". Questionado sobre o atraso no planeamento da resposta à segunda vaga, Costa assumiu as falhas, mas lembrou que o cenário se repete por toda a Europa. "Houve cá, como em França, Espanha, Holanda, em todo o sítio. Toda a gente pensava que a segunda vaga chegaria na transição do outono para o inverno e ela chegou no fim do verão", assumiu o primeiro-ministro.

"Nenhum ministro da saúde foi confrontado com uma situação tão grave como a atual", disse o primeiro-ministro, reafirmando a sua, "reforçada", confiança política em Marta Temido. Sobre as críticas de Marcelo Rebelo de Sousa aos erros de comunicação, Costa recusou o toque. "Não senti como uma crítica, apenas como uma constatação da realidade. Hoje a mensagem é mais complicada de transmitir. Não estamos a dizer que é para fechar tudo", disse.

Também quanto às investigações, noticiadas pela revista "Sábado", a Siza Vieira e João Galamba, respetivamente, ministro do Estado e da Economia e secretário de Estado da Energia, por alegado favorecimento a um consórcio no negócio do hidrogénio, Costa também saiu em defesa dos membros do Executivo, dizendo-se "absolutamente descansado". "Sei que há um comunicado da PGR a dizer que há uma investigação, mas que não há suspeitos, e sei que o ministro apresentou uma queixa-crime contra denúncia caluniosa. Os portugueses podem estar descansados, ninguém está acima da lei."

APOIOS EUROPEUS CHEGAM NO COMEÇO DE 2021

"Nas próximas semanas haverá acordo sobre o montante global do Orçamento. Julgo que no começo do ano as verbas estarão disponíveis", disse o primeiro-ministro sobre os apoios europeus anunciados para fazer frente à pandemia. E quanto ao Orçamento do Estado, António Costa diz-se esperançado na sua aprovação também na especialidade, confirmando a disponibilidade para continuar as negociações com o PCP. Mesmo quanto à maior distância política do Bloco de Esquerda nas negociações, o primeiro-ministro lembrou: "Não temos nenhuma porta fechada". Mas e será que recupera o seu apoio? "Tem de perguntar ao BE. Não percebo as razões objetivas para ter tomado a decisão que tomou. Haverá razões políticas e subjetivas, nós continuaremos a trabalhar."

E teme instabilidade política ou eleições antecipadas em caso de ser necessário um OE retificativo? Costa não exclui a possibilidade: "Se tudo correr como prevemos, o ano de 2021 já será de recuperação da economia. Se for preciso um retificativo, será. Não vamos poder regatear a resposta à pandemia. O OE é para todo o ano e dá uma resposta robusta à saúde e ao emprego, mas claro que se a situação se agravar pode ser necessário. O que o ministro disse foi que não se pode excluir esse cenário".

E sobre o risco de eleições antecipadas, o primeiro-ministro foi claro: "Seria mau para o país." "Estou cá para governar durante a pandemia e vou estar cá para recuperar da pandemia. É empurrar a pedra outra vez? Sim, mas quem já a empurrou uma vez, empurra outra." E a queda nas sondagens não o preocupa? "A última coisa pela qual me vou deixar condicionar é a popularidade. Para as sondagens olho pouco. Olho sim para como está a evoluir a pandemia."

"PRIORIDADE DEVE SER A GOVERNAÇÃO"

Este sábado, além do Conselho de Ministros, o PS reúne a sua Comissão Política para definir a posição nas eleições presidenciais. António Costa recusou antecipara a posição do partido, mas foi avançando que "a grande prioridade do PS deve ser concentrar-se na governação". "Não vou estar a antecipar a posição que será tomada. Ao longo dos anos já tomámos diferentes posições. A decisão será tomada amanhã", disse António Costa, confirmando que não falou com Ana Gomes, militante socialista, desde o seu anúncio de candidatura a Belém.