Notícias



Hotéis pedem ao Governo para funcionar como lojas, residências assistidas e espaços de ‘cowork’ ou exposições
EXPRESSO


Sem turistas, os hotéis desocupados podem ter outras utilizações - é esta a perspetiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) , que enviou ao Governo uma "proposta estruturada" no sentido dos hotéis e outros empreendimentos turísticos, cuja atividade foi travada pela pandemia covid-19, possam servir "outros fins além do alojamento de turistas", tendência que já tem vários "exemplos internacionais".

Dar aos hotéis "utilizações comerciais, de longa ou curta duração", pondo-os a servir de espaços de escritório e de 'cowork', para ensino, formação ou reuniões de empresas, além de "exposições e outros eventos culturais", são algumas das propostas feitas pela AHP ao Governo, o que também inclui que as unidades hoteleiras possam funcionar como centros de dia ou residências assistidas.

Para a associação, é "fundamental que parte, ou a totalidade, das unidades de alojamento dos hotéis, presentemente desocupadas" tenham nesta fase outras utilizações, para não ter de fechar ou despedir pessoal. A AHP avança que está a aguardar do lado do Governo "o enquadramento legal para estas utilizações".

Vários grupos nacionais já estão a incentivar a utilização dos seus hotéis para teletrabalho ou reuniões empresariais, como é o caso do Marriott de Lisboa que reconverteu parte dos seus quartos para funcionarem como escritórios. Também o grupo Pestana ou a Vila Galé estão a promover a sua oferta de quartos para poderem funcionar como espaços de trabalho e de reuniões de empresas.

Servir de residência a estudantes universitários é uma das utilizações que está na calha para os hotéis, na sequência de protocolos já firmados com o Governo, segundo lembra a AHP (o que de momento ainda não gerou grande procura, devido às restrições da própria pandemia que estão a atrasar as aulas presenciais). A associação também recorda que os hotéis nacionais alojaram profissionais de saúde na primeira fase do surto, mas frisa que é preciso haver outro tipo de utilizações.

NOVAS UTILIZAÇÕES PARA EVITAR FECHAR OU DESPEDIR PESSOAL

“A situação é complexa e estamos todos a lutar pela manutenção das empresas e dos postos de trabalho, pelo que a alteração temporária de uso das unidades de alojamento pode ser uma boa alternativa para muitos empreendimentos turísticos, porque hóspedes, que garantam a sustentabilidade do negócio, não sabemos quando voltaremos a ter", alerta Raul Martins, presidente da AHP.

Mais de 70% dos hotéis em Portugal preveem fechar, devido ao agravar da situação com a segunda vaga da pandemia e as restrições a apertar em vários países da Europa - revelam as projeções da AHP, com base no último inquérito junto dos associados, pondo a tónica na "perda importante de receitas e dormidas".

O presidente da associação hoteleira frisa que "a AHP desde há muito que vem defendendo o 'mix use' dos estabelecimentos hoteleiros, para que possam servir de alojamento temporário a turistas mas simultaneamente de habitação, espaços de escritório, hostels, etc".

A "evolução legislativa" no caso dos hotéis é nesta fase um imperativo, segundo o presidente da AHP, porque "por um lado, as funções não são estanques e há uma procura muito dinâmica e “nómada” de soluções não rígidas, e por outro a rentabilidade das empresas hoteleiras depende de aproveitarem melhor os espaços, caros, muitas vezes com pouca utilização”.

Raul Martins avança ainda que a proposta dos hotéis terem enquadramento legal para outras utilizações foi feita pela associação em setembro ao Turismo de Portugal e à Secretaria de Estado do Turismo, que "mostraram a maior abertura para estas soluções”.