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Mais do que moratórias, banca quer apoio às empresas
JORNAL DE NEGÓCIOS


As moratórias bancárias, criadas para apoiar empresas e famílias em contexto de pandemia, já foram prolongadas por duas vezes. E podem não ficar por aqui. Os maiores bancos nacionais não afastam a necessidade de um adiamento, mas alertam que mais importante que isso é garantir que há medidas para apoiar as empresas a terem liquidez e a responderem às suas obrigações quando esta solução terminar.

Enquanto João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, considera, neste momento, que as moratórias não deviam ser prolongadas, Miguel Maya, presidente executivo do BCP, afirmou que “se chegarmos a setembro [de 2021] e a pandemia estiver descontrolada, é claro que sim”. As declarações foram feitas durante a conferência “Banca do Futuro”, organizada pelo Negócios, esta terça-feira. Já Paulo Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos (CGD), disse que, “por questão de princípio, diria que não” à extensão, mas alertou que esta “não pode ser uma resposta de sim ou não para o universo todo”. Este prolongamento tem de ser considerado tendo em conta os setores mais afetados pela pandemia, como o turismo. E realçou: esta “é uma questão política, não é uma questão dos bancos”.

Mais do que o prolongamento, a preocupação da banca é garantir que as empresas viáveis sobrevivem. “Mais interessante é perceber que tipos de apoios poderá haver” para as sociedades, referiu Pedro Castro e Almeida, presidente do Santander Portugal. “A questão das moratórias depende do que vai acontecer às nossas empresas” e se haverá “apoio às empresas na saída das moratórias” e “ambiente económico para permitir que possam fazer face ao cumprimento da dívida”, realçou, por outro lado, Paulo Macedo.

o Expresso, o ministro da Economia afirmou que o Governo está a preparar uma solução para o fim das moratórias, sem dar detalhes. Em declarações à margem da conferência, o CEO do Santander Portugal adiantou que o setor não foi consultado sobre este plano.

Os dados mais recentes do Banco de Portugal mostram que foram feitos 788 mil pedidos de adesão a moratórias de crédito, entre o dia 27 de março e o final de agosto. Esta solução permite adiar o pagamento total ou parcial das dívidas. No Novo Banco, referiu António Ramalho, presidente executivo do banco que nasceu da resolução do Banco Espírito Santo, “76% dos nossos clientes estão a pagar juros”.

BdP alerta para saída prematura dos apoios

As moratórias foram criadas em março pelo Governo para apoiar aqueles que estavam a ser mais afetados pelo impacto da pandemia. Isto a par das linhas de crédito garantidas pelo Estado. Medidas que, segundo o regulador, não devem ser retiradas prematuramente.

“Com a incerteza elevada e a recuperação ainda fraca, os riscos de uma retirada precoce dos apoios parecem sérios, exigindo avaliações cautelosas”, afirmou Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, na mesma conferência. Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou, no relatório de estabilidade financeira, que a retirada prematura dos apoios poderá atirar muitas empresas para a insolvência e ter um “impacto severo” na banca.

Também Miguel Maya, CEO do BCP, partilha desta posição. O gestor, que se diz otimista em relação ao tecido empresarial, considera que há riscos, nomeadamente se “começarmos a tirar estes apoios antes do tempo”. Afastando a ideia de que as moratórias são uma “bomba-relógio” para o setor, realça que o risco é “tirarmos o apoio à economia antes que as empresas” tenham liquidez.

Por outro lado, o antigo ministro das Finanças – esteve em funções até junho – admitiu, no mesmo evento, que a extensão demasiado prolongada destas medidas também irá comportar consequências para a economia. Isto porque as moratórias no crédito põem em risco a carteira do setor financeiro e as linhas de crédito poderão aumentar em demasia o endividamento das empresas portuguesas.

Apesar dos desafios, o governador do Banco de Portugal afirmou que “os bancos enfrentam a crise pandémica com uma posição de liquidez mais sólida do que aquela que tinha na crise financeira de 2008, nomeadamente devido às reformas regulatórias”. Esta transformação, disse Mário Centeno, “permite que os bancos façam parte da solução, ao contrário de 2008, quando foram parte do problema”.