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PERDAS SUPERIORES A 60% AMEAÇAM FUTURO DO RENT-A-CAR
Publituris


Desde março que Joaquim Robalo de Almeida, secretário-geral da ARAC – Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor, se mostra apreensivo quanto ao futuro do rent-a-car. A esperança era que os meses de verão permitissem alguma recuperação mas, com o período estival praticamente terminado, a crise provocada pela pandemia de Covid-19 continua a não dar sinais de abrandamento. “A partir de meados de março, o setor viu a sua faturação reduzir-se de forma dramática, tendo as empresas que operam somente o segmento de turismo visto a sua faturação descer para zero”, aponta o responsável em declarações ao Publituris, constatando que, mesmo nos meses de verão – e apesar dos números finais ainda não estarem apurados – se registaram “quebras enormes”, especialmente no que diz respeito ao segmento de turismo, que representa cerca de 60% do negócio de rent-a-car.


Nas previsões da associação, este ano, o setor deverá registar perdas entre os 60% e os 65%, até porque “para minimizar o impacto da enorme quebra da procura, as empresas de rent-a-car reduziram a sua frota disponível em cerca de 45% face ao ano anterior, encontrando-se, neste momento, o setor de rent-a-car em Portugal a operar com cerca de 65.000 veículos ligeiros de passageiros e 8.000 veículos ligeiros de mercadorias”, explica Joaquim Robalo de Almeida, revelando que a “taxa de ocupação média no que respeita aos veículos ligeiros de passageiros é, neste momento, de 65%”.


Em algumas regiões, a situação é ainda mais dramática, como explica o responsável, que aponta o exemplo dos Açores, onde a quebra da procura chegou, em agosto, aos 75%, já depois de, em maio e junho, se terem “registado taxas de ocupação entre os 5% e 10%, o que são valores nunca antes experimentados”, sublinha o secretário-geral da ARAC.


Restam, por isso, poucas dúvidas de que 2020 será “o pior ano de sempre da história do rent-a-car”, uma vez que, acrescenta Joaquim Robalo de Almeida, “se tivermos em atenção os números mencionados (redução de frota, baixa da taxa de ocupação e baixa de preços praticados) estima-se que a quebra da atividade das empresas de rent-a-car em Portugal deverá situar-se em torno dos 60% a 65%”.

Reestruturação e encerramento
Os números estão longe de serem positivos e, por isso, até ao final de 2020, a ARAC não antevê melhorias, com Joaquim Robalo de Almeida a dizer mesmo que as previsões da associação apontam para que o setor viva “meses muito, muito difíceis até ao final do ano”, até porque ninguém sabe quando chegará o fim da crise provocada pelo novo coronavírus, nem “as dinâmicas que teremos no fim dessa crise”, que provocou “uma recessão sem precedentes desde 1930”.


Certo é que muitas empresas deverão optar pela reestruturação ou até mesmo pelo encerramento, pois como refere o responsável, em 2021 deverá acontecer apenas uma “tímida recuperação” e os empresários do setor, “como homens de negócios que são, terão de analisar de forma séria e rigorosa a continuidade dos seus negócios”. “Perante a situação que vivemos, as empresas certamente irão efetuar reajustamentos nas suas estruturas de modo a adequá-las à procura atual, pelo que atrevo-me a dizer que a manter-se a atual situação, mesmo com alguma recuperação nos próximos tempos, algumas empresas procederão certamente à reestruturação das suas estruturas de modo a reduzir os seus custos, podendo algumas delas vir a optar pelo encerramento”, prevê o secretário-geral da ARAC.

Medidas
Joaquim Robalo de Almeida considera que “alguns setores da economia terão uma recuperação mais rápida que outros, sendo que a generalidade irá continuar em níveis baixos por algum tempo”, motivo pelo qual defende que “serão necessárias políticas extraordinárias para encontrar uma linha de rumo para a recuperação da economia”.


Apesar de reconhecer que o Governo “desde cedo procurou combater o problema criado pela pandemia, nomeadamente ao nível da saúde e os seus reflexos na economia, através do apoio às empresas numa primeira fase”, com destaque para o regime de lay-off simplificado que foi adotado em março e que, segundo a ARAC foi “um poderoso apoio às empresas, as quais de um dia para outro viram as suas faturações reduzidas para valores próximos de zero”.


Importantes foram também, segundo o responsável, as “moratórias fiscais e bancárias, linhas de crédito e outras medidas de apoio ao dia a dia das empresas no cumprimento das suas obrigações legais”, assim como o protocolo celebrado pela associação com o Turismo de Portugal, a AMT – Autoridade da Mobilidade e dos Transportes e o IMT – Instituto da Mobilidade e dos Transportes para atribuição do selo Clean & Safe às empresas de rent-a-car. “O selo Clean & Safe constitui um garante para os clientes do cumprimento das orientações da DGS no que respeita aos estabelecimentos e às viaturas objeto de contratos de aluguer, certificando-se que as mesmas se encontram devidamente higienizadas e cumprindo todas as normas de segurança”, defende Joaquim Robalo de Almeida.


No entanto, esta medidas, lembra o secretário-geral da ARAC, foram lançadas numa altura em que se estimava que o verão já pudesse trazer alguma recuperação, o que não aconteceu, o que leva o responsável a defender que as moratórias fiscais devem ganhar maior robustez e prolongar-se no tempo. Já as linhas de crédito, critica Joaquim Robalo de Almeida, “continuam a ser claramente insuficientes, morosas, desadequadas e com grande carga burocrática”.


São, por isso, necessárias mais medidas que permitam às empresas ultrapassar este período negativo. Especificamente para o rent-a-car, a associação defende a adoção de uma moratória relativa ao pagamento do IUC – Imposto Único de Circulação, já que este é “um dos principais impostos que afetam” a contabilidade das empresas do setor e em relação aos quais a ARAC tem vindo a pedir condições especiais, nesta altura de pandemia.


A esperança reside agora nos anunciados fundos europeus, que deverão trazer condições especiais para o apoio às empresas. “Aguardamos os tão falados apoios comunitários que compõem a poderosa “Bazuca Europeia”, parte dos quais deverão ser a “fundo perdido” e destinados também em parte à resiliência empresarial”, conclui.