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Empresas mantêm "ansiedade" com a greve, mas afastam os piores cenários
JORNAL DE NEGÓCIOS


Os setores de atividade que mais temiam a greve dos camionistas de matérias perigosas permaneciam ontem em alerta máximo, mas relativizaram ao Negócios os primeiros efeitos da paralisação que arrancou esta segunda-feira por tempo indeterminado. O cumprimento dos amplos serviços mínimos decretados pelo Governo e o também longo período de preparação ajudaram a afastar as nuvens mais negras.

Porém, a situação mudaria caso a greve se prolongasse e sem cumprimento dos serviços mínimos, um cenário que foi afastado ao final do dia pelo Governo - já depois da recolha destas reações - que avançou para a requisição civil. Esta decisão foi tomada depois de terem surgido informações de que os serviços mínimos estariam a deixar de ser cumpridos. A ANA - Aeroportos de Portugal, por exemplo, alertava, a meio da tarde, para a insuficiência no abastecimento de combustível ao aeroporto Humberto Delgado, impondo restrições às aeronaves.
Distribuição com alguns atrasos, mas "normais"
O diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que reforçaram os stocks e as operações logísticas nas últimas semanas, descreveu apenas "aqui e ali alguns episódios de atrasos, que são normais". "Mas felizmente as coisas estão equilibradas e não estamos a ter nenhuma perturbação de maior", resumiu Gonçalo Lobo Xavier, mostrando-se "confiante de que a situação se mantenha assim", sem alarmismos.

CAP tem receio que greve se prolongue
"As pessoas preparam-se para os primeiros dias e há combustível reservado para que as máquinas e equipamentos não parem. A expectativa e alguma ansiedade são em relação ao tempo que vai demorar a greve porque daqui a dois dias esgotam-se as reservas", descreve Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). Nas primeiras horas, o responsável apenas teve conhecimento de "um pequeno contratempo" numa fábrica de tomate na zona do Ribatejo, enquanto "a operação de colheita ainda decorre normalmente".

Apesar de os operadores agrícolas ainda não terem tido de "testar" os serviços mínimos, têm o "conforto" nas áreas das frutas, legumes e leite, entre outros, de que os respetivos transportadores podem aceder à rede de emergência dos combustíveis. A maior preocupação é no setor do tomate, que usa três combustíveis diferentes na fábrica, no transporte e na operação agrícola. "É uma certa vulnerabilidade que aumenta a tensão. Estamos em plena campanha. Basta um dia de paragem para entrarmos nos prejuízos ou na perda de valor absoluto", conclui.

Alimentos para animais sem "problemas nenhuns"
Também a Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais, que há dias falara em 40 milhões de animais em perigo se não fosse escoada a produção diária de 15 mil toneladas, reconhece, no final do primeiro dia de greve, que "até ao momento não há problemas nenhuns". Nem no acesso às matérias-primas nem no transporte da ração até às explorações agrícolas. O secretário-geral, Jaime Piçarra, "não [tem] conhecimento de qualquer situação anómala" nos postos de combustíveis por parte das empresas do setor, que beneficiam do dístico especial de acesso.

Têxteis tranquilos "para já"
Também o retrato feito pela a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção é de tranquilidade. "Os postos de gasolina estão cheios para já", diz o presidente da associação, que admite contudo que o impacto possa ser diferenciado consoante o período de férias das fábricas. A haver problemas, é no escoamento de exportações e não na chegada de importações, explicou César Araújo ao Negócios.

Turismo com poucos cancelamentos
No turismo, um dos setores que mostrou preocupação com esta greve, a descrição não é muito diferente. "Por agora, mantendo-se o cumprimento dos Serviços Mínimos, a greve ainda não causou grande impacto, até porque as empresas fizeram os seus planos de emergência para que os efeitos fossem menorizados", disse fonte oficial da AHRESP ao Negócios. Ainda assim, foram "canceladas algumas reservas, assim como antecipadas as saídas". Claro que "se não forem cumpridos os serviços mínimos e se a greve durar mais quatro ou cinco dias, a situação pode tornar-se muito complicada", adianta a mesma fonte.

Na mesma linha, fonte oficial da Associação da Hotelaria de Portugal também considera que a situação está controlada por enquanto havendo apenas alguns cancelamentos. Mas dado que estamos em Agosto, mês em que as taxas de ocupação rondam os 90%, a AHP mostra-se preocupada e avisa: "uma vez que para os clientes particulares os serviços mínimos são de 50%, mais tarde ou mais cedo, haverá falta de abastecimento o que terá forte impacto na operação hoteleira."