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Como tem crescido Portugal?
JORNAL DE NEGÓCIOS


Entre 2003, o ano em que este jornal nasceu, e 2018, o último para o qual há dados, a economia portuguesa cresceu 8,3%. Dá uma média de 0,6% ao ano, quase uma estagnação. Comparando com a Zona Euro, quer dizer que Portugal cresceu praticamente um terço da média dos seus parceiros na última década e meia. Como é que isto aconteceu, e o que quer dizer sobre o futuro?

Há certamente mais do que uma forma de contar o que aconteceu com a economia portuguesa nos últimos 15 ou 16 anos. Mas uma delas é descrever o que dizem os números. Desde logo, uma série do PIB desde 2003 mostra que a média de crescimento de seis décimas ao ano esconde os anos de chumbo da grande crise económica e financeira.

Em 2009 a economia portuguesa encolheu 3% e depois entre 2011 e 2013 voltou a reduzir-se todos os anos. Portugal chegou a 2013 com uma economia 6,8% mais pequena. Foi o chamado período de ajustamento, quando Pedro Passos Coelho e Paulo Portas implementaram o programa da troika para conseguir, em contrapartida, financiamento para o Estado e impedir que o país entrasse em bancarrota.

Nestes anos, os impostos foram aumentados, os salários e as pensões dos funcionários públicos sofreram cortes, as regras do mercado de trabalho foram flexibilizadas e o desemprego disparou. O gráfico do desemprego mostra como "ajustamento" pode ser um eufemismo para o que aconteceu.

Em 2013, a taxa de desemprego anual atingiu o máximo histórico de 16,2%, evidenciando como a severidade da crise atravessada por Portugal teve proporções muito superiores à que foi vivida pela média dos países do euro.

Nesse período, com milhares de pessoas no desemprego, o consumo interno colapsou, mas havia uma transformação mais ou menos silenciosa que continuava: a conquista do mercado externo.

A transformação das exportações

Em 2009, as exportações pesavam 27,1% no PIB. Este foi o valor mais baixo desde, pelo menos, 2003. A expectativa da Comissão Europeia é que as exportações atinjam os 43,6% do PIB, mais 16,5 pontos percentuais, numa década.

As consequências desta transformação no modelo de desenvolvimento da economia são muitas: quanto mais exportar, menos dependente do consumo interno Portugal fica e menos precisa de se endividar para o satisfazer.

Num modelo de crescimento demasiado dependente do consumo interno, e em que o país precise de importar para o satisfazer, a economia tem de crescer mais depressa do que o endividamento para o conseguir sustentar – a história portuguesa mostra como é um objetivo difícil de alcançar. Já num modelo de exportação, a economia cresce à custa das importações dos parceiros – um exemplo será o da Alemanha.

Mas apesar de ter conseguido subir o nível das exportações, Portugal não conseguiu ainda descobrir a chave do crescimento que lhe permita equiparar o nível de vida da sua população ao dos países mais desenvolvidos do euro.

O travão das dívidas

Desde logo, não foi só a economia portuguesa que conseguiu subir o nível das exportações. Ainda que a um ritmo bem mais lento, a média dos países da moeda única também viu o peso das suas exportações no PIB aumentar. Ou seja, Portugal está melhor, mas ainda não chega para estar ao nível dos seus parceiros.

Depois, os números do endividamento oferecem uma explicação: com um legado de elevada dívida pública e privada, o país tem dificuldade em manter níveis de investimento que lhe permitam, se bem aplicado, potenciar o crescimento futuro.

Se tudo correr como espera o Executivo, o país chegará ao final deste ano com uma dívida pública de 118,6% do PIB – estará bem abaixo do pico de 130,6% atingido em 2014, mas continuará a ser o terceiro maior endividamento do euro.

O endividamento privado, ainda que menor do que o verificado no passado, também continua a destacar Portugal pela negativa: em 2018 as empresas em Portugal tinham um endividamento líquido de 556,4% do seu rendimento depois de impostos, mais do dobro da média da Zona Euro.

As famílias conseguiram melhorar mais depressa a sua posição, mas mesmo assim continuavam no ano passado com um endividamento bruto de 98,3% do seu rendimento disponível, acima dos 93,5% registados pela média do euro.