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Itália vai arrastar a Zona Euro?
JORNAL DE NEGÓCIOS


Tem a economia transalpina dimensão para pôr em causa a área do euro? Tem. Pode o governo eurocéptico italiano incitar novos embates com Bruxelas? Pode. Haverá em 2019 outros focos de tensão entre Itália e a Europa? Só o tempo o dirá.

Após meses de braço-de-ferro entre o executivo Liga-5 Estrelas e a Comissão Europeia, acompanhado pela subida dos juros da dívida italiana, Roma acabou por ceder e Bruxelas por mostrar flexibilidade.

Há uma semana foi formalizado um acordo sobre a proposta orçamental transalpina, levando a Comissão a retirar a proposta de abertura de um procedimento contra Itália. Roma baixou o défice nominal definido para 2019, de 2,4% para 2,04%, e desistiu do agravamento em 1,2 pontos percentuais do défice estrutural para aceitar agora uma variação nula. O governo liderado por Giuseppe Conte aceitou ainda congelar 2 mil milhões de euros de despesa projectada, dinheiro que só será usado se as metas orçamentais forem cumpridas.

Já Bruxelas aceitou que em vez de uma redução de 0,6 pontos do défice estrutural este permaneça inalterado e deu luz verde a um défice nominal bastante superior aos 0,8% que haviam sido inscritos no Programa de Estabilidade.

Apesar das tréguas, o vice-presidente da Comissão, Valdis Dombrovskis, apressou-se a dizer que a solução não é a ideal e a avisar que Bruxelas vai continuar "vigilante" da evolução das contas públicas transalpinas. O vice-primeiro-ministro e líder da Liga, Matteo Salvini, ripostou garantindo que "Bruxelas não vai controlar as contas públicas italianas". Antes, Conte já tinha assegurado que o recuo de Roma não belisca a agenda expansionista assente nas principais promessas eleitorais de Salvini e Luigi Di Maio (líder do 5 Estrelas).

Estas declarações mostram uma trégua a contragosto e indiciam que o machado de guerra, pelo menos do lado italiano, não estará definitivamente enterrado.
Para 2019 prevê-se um clima de abrandamento económico, podendo esse arrefecimento ser maior do que agora é estimado - a acontecer, isto agravará as dificuldades de Roma para implementar as políticas pretendidas e poderá levar Bruxelas a pedir medidas adicionais.

Com eleições europeias em Maio, também o discurso eurocéptico de Salvini e Di Maio tenderá a agravar-se. Há também a política migratória europeia que continua por resolver. Não faltam, portanto, focos que ameaçam desestabilizar esta já frágil e instável e relação.