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Carros eléctricos são (só) para ricos, diz estudo
Observador


Os políticos decidiram declarar guerra ao dióxido de carbono (CO2) e, de caminho, aos restantes poluentes emitidos pelos motores de combustão, das partículas ao óxidos de azoto (NOx). Vai daí, impõem-se limites que visam melhorar a qualidade do ar que se respira nos centros das grandes cidades, limites esses que vão ser votados nas próximas semanas pelo membros do Parlamento Europeu para o período a partir de 2020.

Sucede que os objectivos que estão a ser discutidos são de tal forma limitativos que só são alcançáveis com uma grande percentagem de vendas de veículos eléctricos e uma quantidade ainda maior de motores electrificados, sejam eles híbridos, mas idealmente híbridos plug-in. Ora, uma coisa é regulamentar a partir de Bruxelas, outra é convencer os cidadãos europeus a optarem pelos veículos menos poluentes. E é precisamente aqui que surgem os problemas: tudo porque os automóveis mais “verdes” são igualmente mais caros, o que afasta os potenciais compradores.

Para ajudar a uma votação mais consciente – e ao estabelecimento de objectivos mais realistas –, a Associação dos Construtores Automóveis Europeus (ACEA) fez uma recolha de dados estatísticos, em que compara a percentagem de mercado conquistada pelos veículos eléctricoscom a riqueza produzida nesses mesmos países. E concluiu algo que já se sabia, mas poucos queriam “ver”, especialmente ali para os lados da capital belga: os carros eléctricos representam praticamente 0% do mercado em países onde o Produto Interno Bruto (PIB) está abaixo dos 18.000€ e que não ultrapassa os 0,75% na média europeia, cujo PIB per capita ronda os 29.000€. Carros eléctricos só em países mais ricos que, para os venderem, podem oferecer condições extremamente atraentes aos potenciais compradores, subsidiando fortemente a venda, além de lhes conceder outro tipo de atractivos, como o não pagamento de portagens e de parqueamento.

Segundo o secretário geral da ACEA, Erik Jonnaert, “a mudança para os veículos eléctricos não vai acontecer até que se consiga resolver o problema dos custos”, além de outras condições necessárias, como a existência de uma rede eficaz de recarga de baterias, capaz de lidar com o incremento da procura. Isto colide com as propostas da comissão criada para analisar esta situação em Bruxelas, que está a apontar para 15% de eléctricos em 2025 e 30% em 2030. Metas que são preocupantes – para não dizer ridículas – depois desta classe de veículos não ter ultrapassado os 0,7% em 2017. E os novos veículos eléctricos que estão prestes a chegar ao mercado tendem a ser mais caros do que os actuais e não mais acessíveis, limitando o boomcomercial que os políticos aguardam. O diferencial entre as expectativas criadas e a realidade pode ser ainda mais grave, uma vez que em Bruxelas havia quem pretendesse impor 50% de percentagem de carros eléctricos no mercado como objectivo.

Os dados recolhidos pela ACEA permitem não só concluir que os veículos eléctricos são mais procurados nos países ricos, como há uma clivagem evidente entre o Norte e o Sul do continente, como prova o facto de Itália e Grécia se ficarem pelos 0,2%, Espanha 0,6% e Portugal 0,7%. Contrastando com esta pobreza de vendas, temos os países com mais de 35.000€ de PIB per capita com 1,8% de eléctricos. Ainda assim a anos-luz de atingir os 30%, ou até mesmo 50%, que se pretenderia alcançar nos próximos 12 anos.