Notícias



Era Portugal quer vender €2 mil milhões em imóveis em 2018
Expresso


A história da Era Portugal confunde-se com a evolução do próprio sector da mediação imobiliária. A celebrar 20 anos de existência no mercado luso, a mediadora quer chegar aos €100 milhões de faturação, mais €13 milhões do que em 2017.

Em entrevista ao Expresso, o administrador, Paulo Morgado, mostra-se confiante e assegura que nunca pensou chegar tão longe com a marca.“A empresa tem uma dimensão bem maior do que alguma vez pensámos.”

NÚMERO

180

lojas Era existentes em Portugal.Quando nasceu, em 1998, a ideia era chegar a 125

12

mil imóveis vendidos em 2017 permitiram faturar €87 milhões. Para este ano o objetivo é atingir os €100 milhões

São cerca de 2300 colaboradores espalhados por 180 lojas, aproximadamente. Números diferentes dos mil trabalhadores e até 125 lojas que constavam da ideia original quando se lançou nesta aventura, com mais três sócios, em 1998.

Compraram a marca para Portugal, a 5 de março, cinco anos depois de a empresa de origem norte-americana ter entrado no mercado europeu. E a 9 de novembro, também de 1998, abriam a primeira loja, no Laranjeiro, perto de Almada, na margem sul do Tejo.

A fórmula para o crescimento pretendia contrariar o padrão português de então. “As empresas em Portugal eram muito tradicionais e muito pouco estruturadas, e as pessoas que operavam no sector também não correspondiam às qualificações e atitude que pretendíamos”. Por isso, decidiram fazer a expansão não com base na incorporação de empresas existentes, mas sim em startups.

“Começámos do zero, há 20 anos, e este ano vamos vender imóveis no montante global de mais de 1% do PIB [Produto Interno Bruto]. Cerca de 2 mil milhões de euros, garantidamente”, afirma o gestor.

As consequências da troika fizeram de 2012 “talvez, o ano mais complicado para a Era Portugal”, mas no ano seguinte as coisas começaram a melhorar e a tendência, desde então, tem sido de crescimento.

Com 12 mil imóveis vendidos em 2017, a Era Portugal faturou (receitas das lojas) mais do triplo de 2012 (€27 milhões) e o dobro de 2014 (42 milhões) e chegou aos €87 milhões. Um valor que deve saltar para os €100 milhões este ano, tendo em conta que a mediadora opera com uma comissão de 5% sobre as vendas — os tais €2 mil milhões que prevê vender em imóveis.

Já o resultado líquido terá atingido cerca de €2 milhões em 2017, mais de 20% que em 2016 e muito consistente com o crescimento que se verifica desde 2012.

58 mil casas à venda

Paulo Moura recusa falar de lideranças do sector por, “infelizmente ainda não existirem estatísticas oficiais sobre a quota de mercado de cada uma das mediadoras.”

“Se consultarmos o número de casas para venda nos sites das principais marcas (que são números públicos), podemos ver que a Era tem 58 mil imóveis à venda enquanto que o segundo concorrente tem 43 mil e o terceiro tem 8500”, conclui.

Quotas à parte, o fundador da marca em Portugal garante que os resultados são produto de uma cultura muito própria e de uma escolha seletiva de trabalhadores. Habilidade, formação, boas lideranças e um propósito são fatores que considera determinantes para o sucesso de trabalhadores e organização. “Uma organização que opere sem um propósito ou um objetivo comum é um saco de gatos.”

Por esse motivo, na Era Portugal as lojas têm todas o mesmo nível de relação com a marca. “Qualquer loja da Era — a mais recente é Albergaria, ao pé de Aveiro — tem um empreendedor que vai recrutar e formar pessoas, com a nossa ajuda: os comerciais – que fazem angariação e venda dos imóveis.”

No futuro próximo, o responsável admite contratações “porque temos, em algumas lojas, défice no número de pessoas. As lojas mais recentes demoram mais tempo a ter as equipas constituídas.”

Em termos de crescimento, será sobretudo pela via orgânica, desmultiplicando lideranças, que são os diretores comerciais — três a quatro por loja — para que cada um lidere oito comerciais. “A nossa visão de futuro é ter em cada loja 30 a 40 comerciais. Não tanto abrir novas lojas, mas dinamizar as que existem.”

Filão norte-americano e russo

Com o crescimento do turismo, chegam outros compradores. Em 20 anos o mundo mudou. Hoje há vários nichos de mercado ligados ao turismo: short rent (aluguer de curta duração), condomínios, lazer. “Há 20 anos Portugal estava numa fase não tão aberta ao exterior”, recorda Paulo Moura.

“Hoje a Era tem clientes compradores em que cerca de 10% das receitas advêm de não residentes. Um crescimento relevante em 2017, que é uma tendência de futuro.”

Razão pela qual a aposta da mediadora será, cada vez mais, nos mercados não residentes. “Hoje compra-se casa em Portugal sem a ver. Há dispositivos tecnológicos que assim permitem.”

E é verdade que “há menos chineses e angolanos. Vamos aos mercados da Ribeira ou de Campo de Ourique (em Lisboa) e há uma quantidade de norte-americanos inacreditável.”

Os estrangeiros compram casas em Castelo de Bode, Almourol e Santa Clara. “Já compram imóveis em pontos que nem poderíamos supor”, assegura o gestor. Apesar dos mercados emergentes serem os dos EUA e Rússia, a grande procura ainda continua a ser de franceses, britânicos e brasileiros, mais ou menos de forma equiparada. Nas ilhas e em localidades como Póvoa de Lanhoso ou em Ponte de Lima, são as gerações que descendentes de emigrantes que contribuem para as receitas dos não-residentes.

“Acredito que o tempo que aí vem joga a favor e não contra a Era”, afirma o administrador em jeito de balanço. Alda Martins

PAULO MORGADO Administrador da Era Portugal

“Há mercados com excesso de procura”

O administrador da Era reconhece que há zonas com excesso de procura mas recusa falar em bolha. É algo que só acontecerá “se houver uma vontade proativa para que se cometam os mesmos erros”. E garante que sozinho ninguém tem sucesso neste negócio.

Os pequenos mediadores que estão a tentar a sua sorte fazem mossa no negócio da Era?

Num mundo global, quase a meio do século XXI, alguém que tem a ousadia de trabalhar sozinho ou é um artista ou não tem muito futuro. O conceito de artista no mercado da mediação tem uma conotação negativa. As pessoas isoladamente não têm hipótese de sobrevivência neste mercado, mas o futuro, melhor que eu, mostrará.

Há excesso de procura face à oferta?

Há mercados onde há um excesso de procura. Há mercados que estão sobreaquecidos, sobretudo Lisboa, Porto e zonas mais turísticas, como alguns pontos do Algarve, mas são questões pontuais.

A nossa visão é sempre de longo prazo. No tempo curto há sempre alguns desequilíbrios, mas há que olhar para os tempos médio e longo. Este contexto, de excesso de procura, que até tem efeitos perversos como o acesso ao mercado dos tais artistas, é de tempo curto.

Estamos à beira de uma bolha especulativa?

Acredito que as pessoas aprendem com os erros cometidos. As razões da bolha (no passado) estão identificadas. Só acontecerá uma nova bolha se houver uma vontade proativa para que se cometam os mesmos erros, mas essa é outra conversa.

As medidas para a contenção do crédito à habitação são positivas?

Nas coisas essenciais não pode haver cedências. A sensatez obriga a alguma contenção para que as coisas não descambem para as situações que levaram à crise do subprime, há uns anos, e que tiveram que ver com a perda da cabeça por parte de alguns agentes intervenientes no mercado.

Como vai ser o futuro das cidades se os portugueses não conseguirem comprar casa nos centros?

Se tiverem salários baixos, certamente serão arrastados para fora dos centros. Se acreditarem que este é um povo altamente qualificado e com grande futuro, em que se deve apostar, certamente vamos ter portugueses a comprar casas no centro.