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Expresso
Já se dizia que o mercado imobiliário estava bem e recomendava-se, mas agora é mesmo oficial: 2017 vai ser o melhor ano de sempre na venda de casas desde que há registo de estatísticas (em 2009). As contas são da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), que, numa perspetiva mais conservadora, calcula um aumento de 20% em relação a 2016 e, numa mais otimista, avança até 25%. Numa situação ou noutra — 152.527 casas transacionadas ou 158.882, respetivamente —, os valores batem sempre os alcançados em qualquer ano desde 2009, o primeiro em que quer a APEMIP quer o Instituto Nacional de Estatística (INE) começaram a compilar o número de alojamentos familiares transacionados.
“Este vai mesmo ser o melhor ano desde que há dados oficiais, com um crescimento nas transações entre 20% e 25% em relação ao ano passado. A nossa estimativa mais contida reside apenas no facto de sabermos que há quem esteja a pedir para adiar as escrituras para o início de janeiro por questões fiscais”, explica Luís Lima, presidente da APEMIP.
Em tempo de balanço, Luís Lima lembra que a recuperação do sector é partilhada pelos portugueses, que regressaram em força ao crédito, e por um grupo crescente de estrangeiros e emigrantes portugueses que retornam e que aqui encontram um refúgio não só fiscal mas literal no que se refere à sua perceção de segurança física.
“Portugal está na moda, já não é só Lisboa e o Porto. E assim irá continuar em 2018, a não ser que se faça alguma ‘asneira’, criando problemas e estrangulamentos fiscais”, realça o presidente da APEMIP.
As receitas do imobiliário a nível nacional e do alojamento local principalmente em Lisboa e no Porto, e que estão a permitir gerar receitas ao longo de todo o ano, têm sido uma “autêntica árvore das patacas”, mas não estão a ser usadas da melhor forma, aponta Luís Lima. “Este dinheiro está a ser usado para ajudar a economia em termos globais, através das taxas turísticas, do IMI e do adicional do IMI, entre outros, mas deveria ser canalizado para o sector do imobiliário, em particular através de incentivos fiscais significativos que estimulem o arrendamento, em casas para jovens e noutras medidas que esbatam a ideia absurda que se criou em relação ao alojamento local.” Para 2018, o presidente da APEMIP augura “resultados animadores, mas com cautela. É que estamos a recuperar demasiado rápido”.
Uma opinião partilhada por Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, que se mostra “preocupado com o excesso de otimismo a que estamos a assistir no mercado”, com os projetos novos a serem direcionados essencialmente para o segmento alto e médio alto. Na sua ótica, “o segmento médio, médio baixo é o motor do mercado. As transações estão a subir, os resultados de 2017 são fantásticos e as perspetivas para 2018 são ótimas, mas temos de atuar agora para que a construção que começa a surgir abarque este segmento onde existe uma necessidade que tem de ser suprida”.
€700 milhões em crédito num mês
Também na RE/MAX, a grande fonte de receitas está a ser assegurada pelos clientes nacionais. Dos cerca de €1000 milhões em casas transacionadas pela rede da RE/MAX, apenas 12% foram assegurados por estrangeiros. “Foi o nosso melhor ano de sempre desde que o grupo aqui se instalou [2000]. E em 2018 estimamos um crescimento na ordem dos 25% a 30%, que deverá assentar em grande parte no aumento do número de agentes. Só este ano foram mais 800, perfazendo atualmente 6000 colaboradores da RE/MAX, e no próximo estimamos um reforço igual”, realça Beatriz Rubio, CEO da RE/MAX Portugal, frisando que a rede é um dos franchising que mais licenças emitiu durante este ano.
Na Era Portugal, este é o quarto ano de crescimento consecutivo. Um cenário que João Pedro Pereira, membro da comissão executiva da Era Portugal, prevê que se repita em 2018. “O crescimento económico, a redução do desemprego, a maior procura de imóveis por parte das famílias e o aumento na concessão de crédito à habitação sustentam as nossas previsões”, diz. Em outubro, os novos empréstimos à habitação atingiram €706 milhões, valor que representa um aumento de 54,8% em termos homólogos, isto é, em relação a outubro de 2016.
Com o regresso da euforia imobiliária a níveis de pré-crise, Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado (GAS) da Deco, alerta: “Nunca é demais lembrar que a taxa de esforço, que inclui o somatório de todos os créditos — habitação, automóvel, consumo —, não deve ser superior a 35% do rendimento líquido da família. Outra preocupação que temos são os empréstimos contratados com taxas variáveis de Euribor, pois estas podem começar a subir.” Outra situação que é preciso acautelar, diz, é a duração do crédito contratado. “Há pessoas com créditos à habitação até aos 70/75 anos e, como sabemos, com a entrada da reforma, há uma diminuição significativa dos rendimentos, e isso deve ser ponderado no momento da contratação do financiamento bancário”, resume Natália Nunes, que acompanha mais de 30 mil famílias endividadas.