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António Saraiva: "OE 2018 cria decepção às empresas"
Jornal de Negócios


O presidente da Confederação Empresarial de Portugal critica o Governo e os partidos de esquerda pelas medidas destinadas às empresas que inscreveram no Orçamento do Estado (OE) para 2018. "Este não é um Orçamento que possamos reconhecer como amigo das empresas e promotor do investimento", afirmou António Saraiva na Conversa Capital desta semana, uma iniciativa do Negócios e da Antena 1.

O que é para si neste momento capital em Portugal?

É que estes bons indicadores macroeconómicos que o país regista, como a redução do desemprego ou o crescimento, tenham sustentabilidade e que, através dessa sustentabilidade, o país possa começar a resolver os problemas estruturais e as reformas de que ainda carece. Por isso, é capital aproveitar estes bons indicadores macroeconómicos, dar-lhes sustentabilidade para resolvermos os nossos problemas futuros.

O próximo Orçamento do Estado promove o que acaba de referir?

Na nossa perspectiva, o Orçamento de 2018 cria expectativas às famílias, mas decepção às empresas. Expectativas às famílias porque ao nível do rendimento disponível melhora alguns desses rendimentos, com a mudança nas taxas de IRS, mas irá depois penalizá-las em sede fiscal, já que os impostos especiais sobre o consumo são alterados, o imposto automóvel é alterado… Enfim, diria que se dá com uma mão o que se tira com a outra.

Este Orçamento é "uma decepção para as empresas" porquê?

Porque, reconhecendo que alguma medidas, pequeníssimas, estão contidas no Orçamento, e são medidas que vêm do Programa Capitalizar, que o Governo deveria ter plasmado [na totalidade] e não plasmou nesta proposta, aquilo que está para as empresas é muito escasso. Depois, o OE contém também uma medida que não desejamos, porque é penalizadora para a atractividade de investimento.

Refere-se a quê?

A esta proposta dos partidos à esquerda do PS, de aumentar a derrama estadual para empresas com lucros superiores a 35 milhões de euros. Passar [a derrama] de 7% para 9% vai fazer com que a taxa máxima de IRC em Portugal passe a ser de 31,5%, quando a média europeia é de 21,9%. Afasta-nos ainda mais da média europeia, afasta o investimento. Por isso, era uma medida que não gostávamos de ver incluída no Orçamento para 2018. Este não é um Orçamento que possamos reconhecer como amigo das empresas e promotor do investimento.

Com a actual solução governativa, tendo em conta as críticas que faz, os empresários sentem-se os "maus da fita"? É essa a ideia que tem?

Nós costumamos dizer, numa caricatura que fazemos, que aquilo que desejávamos era que o Estado saísse da frente e nos deixasse desenvolver por nós próprios, coisa que sempre fizemos. Porque toda a gente acha louvável que as empresas portuguesas estejam a exportar mais. Toda a gente acha louvável que se esteja a criar emprego. Toda a gente acha louvável a resiliência dos empresários. Cantamos loas à sua capacidade de iniciativa...

Não é um reconhecimento da importância dos empresários?

Nas medidas concretas, como era o Orçamento do Estado poderia sinalizar, daquilo que se diz àquilo ao que se pratica vai uma grande distância e a iniciativa privada e os empresários continuam a ser malvistos em Portugal, é uma visão que temos que alterar e que na CIP estamos firmemente empenhados em alterar para que a iniciativa privada seja acarinhada, para que os empresários vejam o seu papel reconhecido de criar riqueza, numa distribuição justa da mesma, porque também aí o país tem muito a fazer. Nós temos que combater as desigualdades sociais.

Que papel cabe aí aos empresários?

Os empresários têm quer ter, como já têm muitos deles, responsabilidade social assumida. Nesta conversa triangular que temos em sede de concertação social - Governo, com parceiros sociais empresariais e parceiros sociais sindicais -, defendemos que este caminho tem que ser feito. Mas não podemos continuar a permitir que a iniciativa privada seja malvista e que os empresários sejam vistos como facínoras e não como criadores de riqueza e de emprego como são.

pErfil

O LÍDER DOS PRATRÕES QUE JÁ FOI OPERÁRIO

Foi reeleito no início deste ano e está a cumprir, até 2019, o seu terceiro mandato como presidente da Confederação Empresarial de Portugal. De seu nome, António Saraiva. Aquele que é hoje o "patrão dos patrões" já um dia foi operário metalúrgico nos estaleiros da Lisnave. A verdade é que em 1989 tornou-se director da empresa Metalúrgica Luso-Italiana e passou a seu administrador em 1992. A firma seria adquirida ao Grupo Mello em 1996 e António Saraiva é hoje o presidente do conselho de administração da empresa que produz as torneiras Zenit. Mais tarde, a par da actividade empresarial viria a tornou-se também dirigente associativo. Foi presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) de Janeiro de 2010 a Janeiro de 2011. A instituição assumiu então a denominação de Confederação Empresarial de Portugal, sendo seu líder desde esse ano. Nascido em 1953 na freguesia de Ervidel, Aljustrel, é pai de dois filhos e avô de quatro netos.