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Afinal, os carros autónomos já rodam na estrada?
Exame Informática


A Web Summit foi palco para a divulgação de parcerias entre fabricantes de automóveis e as grandes da tecnologia, para novidades que ligam a Inteligência Artificial aos carros e até houve tempo para polémicas: há quem diga que os veículos autónomos sem ninguém ao volante já vão rodar nos Estados Unidos; e outros que juram que ainda vamos ter de esperar alguns anos para que essa autonomia total seja uma realidade

Já estamos habituados e a ver automóveis em feiras de tecnologia e, o ano passado, a Web Summit também foi cenário para que fabricantes e empresas tecnológicas revelassem algumas novidades. No entanto, a segunda edição do maior evento de empreendedorismo tecnológico da Europa tinha várias surpresas guardadas sobre o futuro da mobilidade. Desde a capacidade dos automóveis se tornaram totalmente autónomos até, por exemplo, à entrada dos assistentes virtuais neste ecossistema. Mas comecemos pela gestão do trânsito.

Na China, a Volkswagen já usa computação quântica no projeto piloto que permite prever problemas de trânsito 45 minutos antes que aconteçam. O sistema baseia-se na análise na recolha de grandes quantidades de dados, incluindo estado do tempo, eventos e até os comportamentos dos peões e condutores. O sistema desenvolvido pela Volkswagen está dividido em quatro etapas: reconhecer (padrões de mobilidade e contexto), prever (os “pontos quentes” que vão surgir dentro de 45 minutos), otimizar (descobrir rotas e parâmetros de todos os elementos móveis) e enviar as rotas individuais para cada utilizador. As duas primeiras etapas são baseadas em algoritmos de aprendizagem de máquina enquanto a otimização é baseada em computação quântica. Martin Hofman, o diretor de informação da Volkswagen, justificou, na Web Summit, que esta tecnologia é necessária porque a computação tradicional não tem capacidade suficiente para lidar com as variáveis necessárias para este tipo de navegação personalizada.

Computação Quântica A Volkswagen vai trabalhar com a Google no desenvolvimento de um sistema que possa prever o fluxo do tráfego e que ajude, entre outras coisas, à produção dos veículos

A marca alemã aproveitou o evento em Lisboa para anunciar uma parceria com a Google no desenvolvimento da computação quântica. Não só para trazer para o mercado um sistema de navegação com as capacidades indicadas, mas também para otimizar todos os processos relacionados com o desenvolvimento, produção e utilização dos automóveis. Martin Hofman deu, como exemplo, a otimização das baterias «a computação quântica tem a capacidade para analisar o que acontece nas baterias ao nível das moléculas, o que ajudará a desenvolver químicas mais eficientes».

E os carros autónomos que já rodam, ou talvez não, nas estradas americanas

No mesmo dia em que representantes de algumas marcas automóveis foram à Web Summit dizer que os carros totalmente autónomos ainda estavam longe de serem uma realidade, John Krafcik, o líder da Waymo, demonstrou que esta empresa já tem carros totalmente autónomos sem condutor a circular em vias públicas nos Estados Unidos. Uma novidade absoluta porque até agora os testes com carros autónomos eram sempre feitos com um condutor humano disponível para assumir o controlo se e quando necessário. No vídeo apresentado ao público na Web Summit, Krafcik demonstrou que a tecnologia da Waymo, grande parte desenvolvida quando esta empresa ainda era uma divisão da Google, já atingiu um nível de qualidade que permite manter o carro em circulação sem ninguém no lugar do condutor.

Para o líder da Waymo, os sistemas de condução semiautónoma não fazem sentido porque criam a ideia falsa de segurança. Para o provar, Krafcik apresentou vídeos captados dentro de carros de testes com sistemas de condução semiautónoma, onde foi possível ver, por exemplo, uma condutora a maquilhar-se e um condutor a dormir. “Os sistemas parcialmente autónomos não funcionam porque verificámos nos nossos testes que as pessoas se sentem demasiado à vontade e depois não estão preparadas para assumir a condução quando tal é requisitado”, explicou John Krafcik, adicionado “precisamos de um sistema totalmente autónomo, de um condutor que nunca esteja bêbado, chateado ou distraído”.

Segundo o responsável da Waymo, os carros autónomos desta empresa já acumulam mais de 5,5 milhões de quilómetros em vias públicas e foram submetidos a testes especialmente complexos, que incluíram tapar parte dos sensores ou conduzir em áreas com alterações momentâneas das vias. Além da condução real, a Waymo também usa um simulador onde pode criar condições especialmente difíceis. Em simulação, os 25 mil carros virtuais já acumularam mais de 4 mil milhões de quilómetros, cerca de 6 milhões de quilómetros por dia.

John Krafcik explica que todos estes quilómetros são importantes para treinar o sistema: “ todos sabemos que a experiência é o melhor professor”. A Waymo está a preparar-se para oferecer um serviço comercial de partilha de carros autónomos usando os veículos da frota atual, um serviço que também vai servir para empresa estudar as necessidades dos utilizadores.

De viva voz Sabine Scheunert, responsável da Daimler para a área do digital, revelou o nome e funcionalidades do novo assistente virtual da Mercedes

A Mercedes já fala com a… Mercedes!

A Daimler guardou para Lisboa o anúncio que traz mais Inteligência Artificial para dentro dos automóveis. O fabricante alemão anunciou na Web Summit a disponibilização de uma assistente digital que vai ter o mesmo nome da marca mais importante do grupo: Mercedes. Ao contrário do que é muitas vezes comuns em novas funcionalidades para automóveis, a Mercedes não vai estar disponível apenas em novos modelos da marca, já que pode ser acedida a partir de uma app para smartphone. Sabine Scheunert, responsável da Daimler para a área do digital, anunciou ainda que a app vai ter capacidades de realidade aumentada para melhor ajudar o condutor e que a Mercedes vai ser capaz de responder a todo o tipo de perguntas e até rir-se de piadas. Ficámos à espera de colocar à prova o sentido de humor alemão.

Alternativa Austin Russel garante que a Luminar Technology tem a solução para evitar os sistemas LIDAR muito caros. A empresa desenvolveu um LIDAR mais económico que os restantes porque apenas utiliza o laser.

A tecnologia que vai dar visão sobre-humana aos automóveis

Uma startup norte-americana veio à Web Summit demonstrar um novo radar laser que permite aumentar a distância e resolução das imagens captadas pelos sistemas que controlam os veículos autónomos. Regra geral, os carros autónomos em desenvolvimento, incluindo os veículos da frota Waymo (ex-Google), utilizam um radar LIDAR (Light Detection And Ranging), que cria imagens 3D através de lasers que são emitidos, refletidos pelos objetos e depois captados por sensores instalados no carro. A regra para aumentar a qualidade destas imagens é simples: quanto mais lasers (e respetivos sensores de captura) existirem, mais pormenores vão ser apreendidos. A resolução elevada é importante para detetar objetos mais pequenos e em movimento. Mas o LIDAR tem limitações: devido às propriedades físicas da luz (comprimento de onda), há elementos que refletem melhor a luz que outros e a distância máxima normalmente é de algumas dezenas de metros. Pode parecer muito, mas a velocidades elevadas em autoestrada pode ser demasiado pouco para evitar o acidente.

Apesar de existirem marcas, com destaque para a Tesla, que estão a desenvolver sistemas de condução autónoma sem radares LIDAR, Austin Russel garante que só esta tecnologia vai permitir sistema de condução autónoma realmente seguros

De acordo com Austin Russel, fundador e CEO da Luminar Technology, os radares LIDAR mais sofisticados utilizam conjunto de 64 lasers para “varrer” o ambiente e têm um alcance de 40 metros. No entanto, como podem custar mais de 100 mil euros cada, «quem desenvolve carros autónomos tem optado por reduzir o número de lasers e, consequentemente, a capacidade do LIDAR – atualmente é comum usar-se sistemas com 16 lasers que resulta numa resolução muito baixa». Russel garante que a Luminar Technology tem a solução, um LIDAR mais económico que os restantes porque apenas utiliza o laser. No entanto, a elevada velocidade de varrimento em conjunto com alterações nas propriedades da luz do laser resultam em imagens com cinquenta vezes mais definição que o habitual, que capturam todo o tipo de objetos e com alcance dez vezes superior à de LIDAR tradicionais.

Apesar de existirem marcas, com destaque para a Tesla, que estão a desenvolver sistemas de condução autónoma sem radares LIDAR, Austin Russel garante que só esta tecnologia vai permitir sistema de condução autónoma realmente seguros: «sistemas com LIDAR de baixa resolução e até mesmo sem este tipo de radar podem resolver 99% dos problemas da condução autónoma, mas o grande desafio está nos outros 0,999%, que podem incluir uma criança que surge repentinamente numa estrada atrás de uma bola ou um pequeno obstáculo».

Na corrida George Hotz acredita que vai «vencer a corrida para o carro autónomo» porque as «marcas não conhecem o software e ainda vêem o cruise control adaptativo como uma caixa negra»

O hacker que desbloqueou o iPhone quer ser o primeiro nos carros autónomos

“Fake news”, é assim que George Hotz designa as notícias que reportaram que este hacker tinha falhado redondamente a promessa de que iria lançar, até ao final de 2016, um sistema de condução autónoma sofisticado abaixo dos 1000 dólares. De facto, Hotz não lançou um produto de consumo com estas características, mas garante que cumpriu a promessa através da disponibilização de um conjunto de “blocos” que permitem adicionar tecnologia de condução autónoma a vários carros disponíveis no mercado: um dispositivo (Panda) que liga à porta OBD2 dos carros a computadores e smartphones (via Wi-Fi ou USB), uma app (chffr) para iOS e Android, um sistema de infoentretenimento com câmara baseado num smartphone (chffrplus) e o Openpilot. Esta solução de código aberta, que pode ser descarregada gratuitamente da Internet, é capaz, garante Hotz, de adicionar a capacidade de condução autónoma a vários carros disponíveis no mercado e, declara, «como é de código aberto, qualquer pessoa pode adaptá-lo a outros carros, o que está a acontecer». Para provar a eficiência do seu sistema, o hacker mostrou na Web Summit um vídeo de um Honda em modo de condução autónoma usando o Openpilot.

George Hotz acredita que vai «vencer a corrida para o carro autónomo» porque as «marcas não conhecem o software e ainda vêem o cruise control adaptativo como uma caixa negra», adicionando que «não fazem atualizações». Hotz chega mesmo a dizer «sei que vamos vencer porque o que aconteceu à Nokia vai acontecer às marcas de automóveis». A comparação entre os smartphones e automóveis não se ficou por aqui: «o Openpilot vai ser o Android da condução autónoma… a Tesla já é a Apple, mas vamos ser o Android». O hacker acredita que o Openpilot vai acabar por ser implementado por várias marcas automóveis, do mesmo modo que aconteceu quando «a LG e a Samsung venceram a Nokia quando optaram pelo Android».