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Pode Portugal sobreviver à atual tempestade geopolítica? Como?
Expresso


Depende! Portugal ao longo da sua existência teve de lutar muito para conseguir e garantir a independência; mas na história mundial sabemos que não está escrito que nações mesmo muito antigas possam manter ou controlar o Estado que lhe corresponde para sempre. Tantos Estados que a História engoliu...

Acontece que Portugal não soube aproveitar os melhores períodos para se desenvolver devidamente, concretizando reformas adequadas a cada tempo e educando devidamente o seu povo. Raramente tivemos, como Estado, a capacidade financeira suficiente e a capacidade de projeção cultural necessária.

Há fatores críticos indispensáveis aos Estados que atualmente Portugal tem vindo a perder. Acontece no presente tempo a maior revolução de sempre na geopolítica mundial com consequências visíveis no aparecimento e dispersão de novos poderes (nacionalismos, religiões, crime organizado, terrorismo transnacional, redes sociais), na ciência e na tecnologia, no clima, na demografia, na banca, nas empresas, na segurança interna e externa e até na geografia, num mundo que pela primeira vez tudo está ligado em rede e onde surgem líderes claramente autoritários em países essenciais. Já nada é garantido!

Desperdiçaram-se tempo e apoios após 1986 para depois serem necessários grandes sacrifícios o que foi palpável desde 2011 e que estão longe de terem terminado. Disfarça-se com resultados conjunturais, otimismo e esperança mas os grandes problemas de fundo ainda não estão resolvidos. Mesmo com todo o trabalho, por vezes muito meritório, de cidadãos, trabalhadores e decisores, governantes e parlamentares, podemos vir a perder definitivamente a independência; a independência política e financeira já foi perdida para Bruxelas e Frankfurt como num novo Império Romano, quando a própria UE está em perigo. O poder empresarial e bancário desapareceu para privados de várias origens, mas também transferido para outros Estados defensores do capitalismo de Estado. Estamos a caminho de um modelo em que empresas são donas de Estados históricos? Como fazer para o evitar connosco?

Há que definir muito bem e de forma clara os objetivos nacionais permanentes e os conjunturais, perceber bem a rede das interdependências internacionais e sabê-las aproveitar devidamente, tomar as decisões vitais sem nunca deixar de as prosseguir e conceder-lhes os meios (humanos, materiais e financeiros) para a sua concretização.

Embora isto seja simples e claro tem havido muitas dificuldades na sua racionalização, estruturação e execução. As questões diárias, prementes e as naturais lutas partidárias impedem que se olhe para o que é mesmo vital no futuro. Parece que apenas o nosso Presidente e os antecessores dele lhe têm dado atenção. E os ministérios da soberania (Estrangeiros, Defesa, Administração Interna e Justiça), ligados à segurança das pessoas, do território e dos bens, dos espaços, neles incluindo o ciberespaço, com responsabilidades internacionais, não podem ser menorizados e tratados por lembrança por amadores sem peso político.

Não posso, num espaço tão reduzido, tudo explicar, mas fica o alerta e o pedido que ao mais alto nível do Estado o assunto seja agarrado e levado até ao fim por um grupo multidisciplinar; aproveitemos um momento que parece ser favorável e não o percamos, mais uma vez.