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PLMJ cria robô para automatizar processos judiciais
Jornal Expresso


A PLMJ vai começar a usar em setembro um robô, baseado em tecnologia de inteligência artificial, que vai automatizar alguns processos judiciais, libertando mão de obra de advogados que até agora estavam envolvidos em tarefas fastidiosas de várias horas de pesquisa de leis.

O projeto resulta de um grupo de trabalho liderado por Manuel Lopes da Rocha, sócio da PLMJ, e um conhecido advogado especialista em direito da informática e de propriedade intelectual. Numa segunda fase, o sistema inteligente deste escritório de advogados vai ser capaz de fazer a produção automática de documentos jurídicos.

Manuel Lopes da Rocha acredita que esta inevitável introdução da Inteligência Artificial e robôs no Direito vai ter um forte impacto no mercado de trabalho das profissões jurídicas. “Ainda é cedo para dizer se vai haver desemprego maciço, mas parece evidente que as máquinas inteligentes vão libertar muitos advogados de tarefas padronizadas e menos criativas”, admite.

Uma automatização de processos que também vai abrir a porta para a chegada a Portugal em breve da chamada advocacia de baixo custo, que já existe em alguns países europeus para a resolução de casos judiciais padronizáveis e sem grande complexidade, como os contratos de arrendamento, os divórcios ou a reclamação de pagamentos. “Estamos a estudar a melhor forma de competir neste novo modelo de serviços jurídicos low cost”, acrescenta Rui Soares Pereira, consultor da PLMJ.

Justiça preditiva

À medida que os escritórios de advogados passam a utilizar sistemas cognitivos para lidar com megaprocessos, para Ricardo Negrão, diretor de sistemas de informação da PLMJ, vai colocar-se rapidamente a questão da utilização da I.A. para acelerar e otimizar o processo decisório dos tribunais. Ou seja, num futuro não muito distante, os juízes vão socorrer-se de sistemas cognitivos (que aprendem a partir de grandes volumes de dados em linguagem natural) para auxiliar no julgamento de processos de grande dimensão que requerem muitas audições de testemunhas e documentos. Para que a Justiça portuguesa se adapte a esta nova era, Lopes da Rocha diz ser necessário “um forte investimento dos tribunais em tecnologia e a mudança de procedimentos e de mentalidades”.

Outro campo de aplicação da inteligência artificial ao Direito, segundo Ricardo Negrão, é o da justiça preditiva, cujo objetivo é usar os sistemas cognitivos para antecipar a decisão dos tribunais. J.R.

Sistemas cognitivos chegam a vários sectores

Inteligência artificial deixou de ser ficção científica e já tem impacto em muitas atividades. Eis alguns exemplos

CASAS INTELIGENTES

Assistentes pessoais e robôs que interagem com humanos

Graças aos últimos desenvolvimentos de inteligência artificial e de reconhecimento da voz, os fãs da tecnologia podem hoje interagir com assistentes pessoais inteligentes e robôs domésticos. Ligar o televisor, escolher uma música, ver como está o trânsito ou o tempo são algumas das ordens (nem todas em português) que podem ser dadas em linguagem natural a estes equipamentos que custam menos de €200. E há outras funcionalidades que já podem ser adicionadas como o controlo da qualidade do sono ou a monitorização dos principais indicadores de saúde. Perante este enorme potencial de negócio, os gigantes da tecnologia travam uma luta de titãs para conquistar uma posição central nos lares. A Amazon tem o Alexa desde 2015 e leva alguma vantagem (71% do mercado segundo a revista “eMarketeer”). Recentemente, a Google lançou o Home em alguns países fora dos EUA (Portugal não foi incluído) e promete dar luta à empresa de Jeff Bezos. A Apple, com o Siri, e a Microsoft, com o Cortana, também estão na corrida. Outros fabricantes criaram pequenos robôs humanoides que aprendem a interagir com habitantes da casa (por exemplo, o Kuri, da Bosch), ou que se encarregam de aspirar o pó.

FINANÇAS

Assistentes ‘aconselham’ clientes bancários

A inteligência artificial começou por entrar em alguns bancos para ajudar os funcionários a tomar decisões (por exemplo, na concessão de crédito). Nos últimos tempos começaram a surgir robôs, ou assistentes virtuais, que interagem com os clientes (sobretudo da geração millennial). São muito populares junto dos investidores em Wall Street, mas também já começaram a chegar à Europa. Por exemplo, o banco sueco SEB ‘contratou’ a Aida, uma empregada virtual loura, que de forma sorridente responde a algumas perguntas básicas que os visitantes do site queiram colocar. Reverso da medalha: embora as questões mais complexas continuem a ser resolvidas por operadores humanos, o número de trabalhadores do centro de atendimento do banco sueco foi reduzido. Por outro lado, a IA também está a ajudar os grandes bancos a pouparem muitos milhões de euros nos custos relacionados com as pesadas obrigações regulatórias. O caso não é para menos porque se estima que a banca internacional esteja a gastar anualmente 100 mil milhões de dólares em tarefas relacionadas com a regulação e 150 mil milhões de dólares em multas. Para reduzir esta fatura, os bancos usam sistemas cognitivos para conseguir varrer o número crescente de normas e evitam entrar em infrações. Conhecida por “Reg Tech” (regulação tecnológica), é uma das áreas de software em expansão.

INDÚSTRIAS CRIATIVAS

Os computadores podem ser artistas?

Parece muito distante o dia em que um sistema inteligente vai escrever como Fernando Pessoa ou Shakespeare, mas já existem agências noticiosas que usam robôs para escrever notícias padronizáveis (como as análises dos mercados bolsistas). Também há cada vez mais artistas a recorrer a sistemas cognitivos. O músico Alex Da Kid, vencedor de um Grammy, teve a ajuda do “Watson” para encontrar as melhores palavras para escrever uma canção. Este computador cognitivo da IBM também já foi utilizado para selecionar as melhores cenas do filme “Morgan” para a produção de um vídeo promocional no YouTube.

SAÚDE

Auxiliares de diagnóstico que salvam vidas

Os sistemas cognitivos são cada vez mais um precioso auxiliar de diagnóstico para os médicos uma vez que conseguem consultar, em escassos segundos, gigantescos volumes de dados (registos médicos, imagens, últimos conhecimentos científicos ou casos clínicos semelhantes). Torna-se assim uma ferramenta poderosa nos casos em que o fator tempo é vital. Segundo a revista de engenharia “Spectrum IEEE”, o “Watson” da IBM levou dez minutos a fazer um plano de tratamento num paciente com cancro no cérebro, uma tarefa que demoraria 160 horas a uma equipa de médicos. Também as empresas farmacêuticas usam algoritmos em sistema de aprendizagem-máquina para reduzir o tempo de investigação de novos fármacos. Para já, esta tecnologia de inteligência artificial só está ao alcance dos hospitais com capacidade económica, mas é de esperar que a sua utilização se democratize à medida que os preços da tecnologia baixam. Não se prevê que a IA provoque o desemprego dos médicos no imediato, mas um estudo da Future Humanity Institute, da Universidade de Oxford, prevê que em 2053 as cirurgias 
serão feitas por sistemas cognitivos.

TRANSPORTES

Carros autónomos e aviões sem piloto

Tudo se conjuga para que daqui a alguns anos os aviões possam voar sem pilotos. A Boeing já anunciou que a tecnologia aviónica permite ter aviões autónomos. O banco UBS fez as contas e concluiu que as companhias aéreas poderiam poupar 35 mil milhões de dólares em custos com pilotos e com as reduções no consumo de combustível. Se os aviões sem piloto ainda podem ser um cenário distante, os automóveis autónomos (sem condutor) vão surgir ao virar da esquina. Já em 2020, a consultora Gartner prevê que existam 10 milhões de carros autónomos e que em 2030 um em cada quatro não precise de condutor. Mas para que isso aconteça os sistemas cognitivos destes carros terão de ser capazes de tomar as decisões adequadas na estrada e as autoridades reguladoras vão ter de se sentir confortáveis em deixá-los circular nas mesmas vias onde andam os carros conduzidos por humanos. Construir um carro sem condutor é um desígnio antigo da indústria automóvel, mas o tema só em 2012 saltou para a atualidade quando se soube que a Google estava a ensaiar o seu. Desde essa altura surgiram interessados de vários quadrantes: fabricantes da indústria automóvel, empresas tecnológicas — Google e Apple — e até fabricantes de eletrónica e chips (Bosch e Intel). Todos estão a investir forte neste novo tipo de carros graças aos últimos avanços combinados de robôs, visão de computadores e sistemas cognitivos em tempo real. Não foi por acaso que a Uber contratou largas dezenas de especialistas em condução autónoma na Universidade de Carnegie Mellon.

SERVIÇOS

Máquinas ameaçam colarinhos brancos

Contabilistas, empregados administrativos, operadores de centros de contacto telefónico, tradutores... Estas são apenas algumas das profissões em risco com o advento da IA. Vão escapar numa primeira fase os profissionais que desempenham tarefas de maior valor acrescentado e que (por enquanto) não são substituíveis pela máquina. Por exemplo, há ferramentas que já ‘entendem’ o contexto de um texto submetido a uma tarefa de tradução, mas as traduções literárias só podem ser feitas por humanos. A IA também pode libertar as pessoas de tarefas fastidiosas. Os operadores do centro de contacto do banco brasileiro Bradesco melhoraram o seu desempenho em 85% porque usam o sistema cognitivo “Watson” na tarefa de procura de documentos 
em português. J.R.

OS ANOS DE OURO

2010


2012

Inicia-se período de forte investimento. 150 startups de IA recebem investimento de capital de risco. Em 2016 já tinham sido financiadas 2320 novas empresas, num total de €13 mil milhões

2015


Siri, assistente pessoal de voz, é introduzida pela Apple no iPhone 4S. Máquinas conseguem ‘dialogar’ em linguagem natural com humanos. Google cria biblioteca de software livre TensorFlow de apps para programadores

2016

Gigantes da tecnologia, como Google, Facebook, IBM e Microsoft, investem fortemente em diversos projetos de inteligência artificial e na compra de startups (mais de 200 aquisições desde 2012 até ao início de 2017)

2017


Número de aplicações de IA cresce exponencialmente. Surgem as primeiras vozes — Bill Gates, Elon Musk e Stephen Hawking — a exprimir receios pelas implicações no futuro da espécie humana