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Exportações disparam 13%, mas INE alerta para perigos do Brexit
Dinheiro Vivo


As exportações nacionais de bens estão a viver um momento bastante favorável. Esta altura do ano aparece como a melhor dos últimos seis, tendo o valor faturado aumentado 13,3% nos primeiros cinco meses de 2017 face a igual período do ano passado, mostram dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) recolhidos pelo Dinheiro Vivo. Na mesma nota, o INE também dá conta de um forte crescimento das importações (no período janeiro-maio subiram 16,3%, o ritmo mais acentuado em 17 anos), provocando uma degradação de 31% no saldo comercial de mercadorias. Estas contas não integram a balança de serviços, que continua a ter um saldo positivo para Portugal, sobretudo graças ao turismo.

No entanto, na atualização das estatísticas do comércio internacional, ontem conhecida, o INE faz um alerta menos comum. O Reino Unido continua a ser um parceiro comercial muito importante de Portugal, a vendas para lá estão a crescer, é um grande cliente das exportações, sobretudo nalguns segmentos de alto valor acrescentado e de alta tecnologia, pelo que a concretização da saída do país da União Europeia (o chamado Brexit) pode ter um efeito nocivo na economia e nas indústrias nacionais mais viradas para o mercado britânico. E identifica os segmentos mais expostos ao perigo e à incerteza associados ao Brexit. O referendo que deu a vitória ao Brexit aconteceu a 23 de junho de 2016 e as negociações para a saída iniciaram-se em junho últimos.

Há um ano, o INE analisou a importância do mercado para o sector exportador português, mas hoje, com mais informação, apresenta um estudo mais completo. Basicamente, conclui que os sectores de ótica e precisão, máquinas e aparelhos, vestuário, veículos e material de transporte, alimentar e químico são, por esta ordem, os que mais têm progredido no mercado do Reino Unido, tendo lá “posições de relevo”.

São, por isso, alguns dos que também podem sair mais prejudicados com a alteração de condições comerciais decorrente do Brexit. Reino Unido, o cliente da indústria ótica portuguesa O caso mais evidente é o dos produtos de ótica e precisão, um segmento de muito alta tecnologia e de grande valor acrescentado. Diz o INE que “no 1º trimestre de 2017, o Reino Unido detinha um peso muito superior nas exportações de produtos de ótica e precisão (11,7%) em comparação com o peso do mercado britânico nas exportações totais portuguesas (6,7%), à semelhança do registado nos períodos homólogos dos dois anos anteriores”.

Portanto, as empresas portuguesas que atuam neste mercado estavam a fazê-lo com sucesso, com dinamismo. Neste e noutros, o que é visível pela importância cimeira do Reino Unido em alguns segmentos específicos. Por exemplo, na venda de contadores, indicadores e velocidade, tacómetros e estroboscópios (uma vez mais, produtos de gama alta) o Reino Unido aparece como maior cliente de Portugal, comprando 26,6% da produção. Na fibra ótica, fica com 23,2% da exportação nacional. Nos aparelhos de sinalização acústica ou visual (semáforos, por exemplo), o mercado britânico é crucial. Compra 70% do que Portugal vende para fora.

No ramo dos aparelhos de radiodeteção, radiossondagem e radionavegação, o Reino Unido também domina, ficando com 55% das vendas portuguesas. Fear of Brexit O INE avisa, portanto, que “um acesso diferenciado do Reino Unido ao Mercado Único Europeu, com o eventual estabelecimento de tarifas alfandegárias nas transações de bens entre o Reino Unido e a UE, a desvalorização da libra face ao euro, o clima de incerteza, assim como a possível contração da economia e do consumo britânico, poderão afetar as exportações portuguesas”.

E recorda que “o Reino Unido, tradicionalmente um dos principais destinos para os bens nacionais, manteve-se como o quarto principal mercado em 2016, com um peso de 7%”. As exportações totalizaram 3,5 mil milhões de euros, “correspondendo a um aumento de 5,5% face ao ano anterior e que representa um maior dinamismo face à evolução global registada de 1%”. No entanto, no 1º trimestre deste ano, o crescimento das exportações de bens para o Reino Unido saiu reforçada (7%), embora abaixo do ritmo médio global de expansão (17%). Mesmo assim, “o mercado britânico permaneceu neste período como o quarto maior destino, com um peso de 6,7%, sendo apenas superado por Espanha, França e Alemanha”, assinala o mesmo instituto.