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Reino Unido rejeita pagar 100 mil milhões pelo Brexit
Jornal de Negócios


O responsável britânico pelas negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia rejeita que o Governo aceite pagar 100 mil milhões de euros no Brexit. E admite sair sem que seja alcançado um acordo.

A factura que a União Europeia (UE) apresentará ao Reino Unido para sair deste grupo ascende a 100 mil milhões de euros, avança o Financial Times que calculou o valor tendo em consideração as exigências apresentadas pela Alemanha e por França.

Este valor compara com os 58 mil milhões de euros referidos pelo próprio presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, numa entrevista à BBC.

O Financial Times adianta que os responsáveis da UE pelas negociações reviram em alta os seus cálculos depois de terem sido apresentadas exigências por parte de vários estados-membro, incluindo pagamentos agrícolas e comissões entre 2019 e 2020. O valor líquido, tendo em consideração que o Reino Unido também receberá fundos entretanto, será de 75 mil milhões.

"Não vamos pagar 100 mil milhões", afirmou David Davis (na foto), secretário das Negociações para o Brexit do Reino Unido, em declarações à ITV. "Nunca vimos um número", salientou o responsável. Davis rejeitou adiantar qual o valor que Londres estaria disponível para pagar, realçando que "o que temos de fazer é discutir em detalhe quais são os direitos e obrigações".

Mas foi mais longe, numa outra entrevista, agora à rádio 4 da BBC, considerando que os britânicos não têm qualquer obrigação de pagar qualquer factura pelo Brexit, podendo optar por sair sem que se chegue a um acordo. Ainda que admita que "ninguém está à procura dessa solução", uma vez que o objectivo é chegar a um acordo, "temos de manter a opção alternativa" de sair.

As posições entre os responsáveis da União Europeia e do Reino Unido têm-se extremado. Ainda este domingo, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse se referível não haver acordo do que obter um mau acordo.

As negociações efectivas para o Brexit só vão ser iniciadas depois das eleições no Reino Unido, agendadas para 8 de Junho.

Acerto de contas exigido pela UE não é punição

O negociador-chefe da União Europeia para o 'Brexit' insistiu hoje, em Bruxelas, que o Reino Unido terá de honrar todos os compromissos financeiros ao abandonar o bloco europeu, mas por uma questão de justiça, e não de punição.

"Tal como reafirmado pelo Conselho Europeu de sábado, o Reino Unido deverá respeitar todos os compromissos que assumiu enquanto membro da UE. Não se trata de uma punição nem de uma táctica. A União Europeia e o Reino Unido comprometeram-se mutuamente a financiar programas e projectos", vincou Michel Barnier, citado pela Lusa.

Barnier falava numa conferência de imprensa quatro dias após os chefes de Estado e de Governo da UE a 27 terem aprovado por unanimidade as grandes orientações para as negociações, e depois de a Comissão Europeia ter adoptado, hoje de manhã, a recomendação para o Conselho abrir as negociações, que inclui as directivas para a primeira fase das negociações, que deverão arrancar em Junho.

O negociador principal do lado da UE para a consumação da saída do Reino Unido da União vincou que é fundamental "saldar as contas, nem mais nem menos", e insistiu que "não se trata de uma punição nem de uma multa", mas tão só de uma questão de elementar justiça, uma vez que Londres assumiu compromissos.

"Decidimos esses programas em conjunto, beneficiámos em conjunto, financiámo-los em conjunto. Milhares de colectividades e empresas dependem disso. Podemos e devemos imaginar os problemas políticos e jurídicos que ocorreriam se esses programas tivessem de ser amputados ou interrompidos", observou.

Barnier apontou que, por isso, o grande objectivo nesta primeira fase das negociações será "chegar a acordo com o Reino Unido sobre uma metodologia rigorosa para calcular as suas obrigações".

"Alguns criaram a ilusão de que o 'Brexit' não teria impacto material nas nossas vidas e que as negociações poderiam ser concluídas rapidamente e sem dor. Não é o caso. Necessitamos de soluções sólidas e precisão legal e isso vai levar tempo", disse.