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1.º de Maio: conheça o retrato robot do trabalhador português
Jornal de Negócios


É homem, vive no Norte, tem 44 anos, é pouco qualificado, trabalha na área dos serviços, está nos quadros, faz muitas horas e ganha pouco. É este o perfil do trabalhador português típico.

Poucos dias antes do 1º de Maio, o Instituto Nacional de Estatística (INE) decidiu publicar um perfil do trabalhador português típico. Algumas das características dominantes deste retrato robot escondem áreas onde houve uma grande evolução nos últimos anos ou em que Portugal se destaca (pela positiva ou pela negativa) face aos outros países europeus.

Demografia e geografia

Um desses casos é a divisão por género. A maioria dos trabalhadores portugueses são ainda do sexo masculino, mas essa maioria encolheu significativamente desde o final da década de 90. Em 1998, 55,6% dos trabalhadores eram homens, hoje é de apenas 51,3%.

Além disso, há também mais mulheres portuguesas a trabalhar do que na maior parte dos países da União Europeia (53,8% vs. 52,8% em 2015). E mais: a esmagadora maioria das trabalhadoras está a tempo inteiro. Menos de 14% trabalha em part-time, o que é mais do dobro da média comunitária (32,7%).

Ainda assim, apesar desta maior participação no mercado de trabalho, as mulheres recebem em média menos 14,4% do que os homens, o que coloca Portugal mais ou menos a meio da tabela europeia. Dentro da UE, só em Itália é que as mulheres ganham mais do que os homens. No lado oposto do espectro, na Áustria a diferença salarial é superior a 20%.

Regressando ao perfil do trabalhador português, ele tem em média 44 anos, quatro anos mais velho do que a idade média observada em 1998, consequência do envelhecimento da população.

Mais de um terço dos trabalhadores vive no Norte do país. Uma percentagem que, ainda assim, caiu nas últimas duas décadas (35,8% vs. 34,1%). Essa perda de peso do Norte (e do Centro) foi transferida essencialmente para a Área Metropolitana de Lisboa, mas também para o Algarve, a Madeira e os Açores.

Tipo de contrato

Oito em cada dez trabalhadores estão por conta de outrem e essa percentagem cresceu de 71% para 82% desde 1998, devido à queda do peso dos trabalhadores por conta própria e dos trabalhadores familiares não remunerados, que hoje representam 17% e 0,6% da força de trabalho, respectivamente.

Entre estes trabalhadores por conta de outrem, há outra maioria que se identifica facilmente: a maior fatia está integrada nos quadros das empresas. Os contratos a prazo representam 18,6%, enquanto outro tipo de vínculos – como falsos recibos verdes – são 3,7%.

Mais uma vez, estamos perante um caso em que estes valores escondem variações relevantes e um posicionamento que se destaca no contexto europeu. Se a maioria dos trabalhadores portugueses tem um vínculo sem termo, também é verdade que essa percentagem tem caído - de 83% em 1998 para 78% em 2016 – e que Portugal tem a terceira percentagem mais elevada da UE de trabalhadores fora dos quadros das empresas, apenas superado por Espanha e Polónia.

Em média, o trabalhador português está há 12 anos no mesmo emprego. Neste caso, a média omite uma grande discrepância: os trabalhadores que estão no quadro têm uma antiguidade média de 14 anos, enquanto para aqueles que têm contratos a prazo é só de dois anos.

Quase sete em cada dez trabalhadores portugueses trabalham hoje na área dos serviços. Mas nem sempre esse domínio foi tão claro como hoje. Em 1998, pouco mais de metade dos empregados estava na área dos serviços, com um peso muito maior da agricultura (13,6% vs. 6,9%) e da indústria (35,2% vs. 24,5%).

Horários e salários

Os portugueses trabalham muitas horas. Segundo o INE, são 42 horas por semana, em média, o que faz de Portugal o quarto país da UE onde mais horas se passa no emprego. Ainda assim, longe das 44,5 horas dos gregos.

Contudo, essas horas não se traduzem em salários mais elevados. O ganho médio dos trabalhadores portugueses representa pouco mais de metade da média da UE (17,3 vs. 33,8 mil euros). Se ajustarmos esses valores ao poder de compra, a diferença é menos relevante: nessa óptica, os portugueses ganham 62% da média dos europeus, uma vez que Portugal tem bens e serviços mais baratos. Os 21,2 mil euros nacionais ficam bem acima dos valores da Roménia e da Bulgária (na casa dos 12 mil), mas muito longe dos 49 mil do Luxemburgo ou dos 42 mil da Bélgica.

Salários baixos e muitas horas no emprego traduzem-se em custos laborais mais controlados para as empresas. Em Portugal, cada hora de trabalho custa em média 13,7 euros. Bastante abaixo dos 25,4 euros da média da comunitária.

Essas remunerações mais débeis espelham, em parte, um tecido produtivo pouco especializado e pouco produtivo, com trabalhadores que possuem qualificações baixas. Quase metade tem apenas a escolaridade básica. Mas, também aqui se observa um ajustamento gigantesco: em 1998, mais de 80% dos trabalhadores tinha esse nível de qualificação. Os licenciados, que há duas décadas eram só 9%, hoje ascendem a 26%.

Entre os sectores onde se ganha pior está a hotelaria e a restauração (11,5 mil euros de rendimento por ano), o que deve motivar algumas preocupações, uma vez que o sector turístico é hoje um dos mais dinâmicos em Portugal. Por outro lado, as actividades financeiras apresentam os salários mais altos (34,6 mil euros/ano).

Ter trabalho é decisivo para escapar à pobreza. Em 2015, quase 11% dos trabalhadores portugueses estavam em risco de pobreza, enquanto para os desempregados esse rácio dispara para 42%. Além disso, enquanto o risco de pobreza dos empregados caiu entre 2003 e 2015, para quem está à procura de trabalho aumentou significativamente (de 32% para 42%).

No entanto, a comparação europeia mostra que, mesmo quem tem trabalho, atravessa dificuldades. Mais do que noutros países. Portugal tem o sétimo risco de pobreza mais elevado entre as economias da UE.